Itália anuncia redução progressiva de tropas no Iraque a partir de Setembro

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O anúncio de Berlusconi chegou depois do Parlamento ter votado o prolongamento da missão italiana no Iraque por seis meses Olivier Hoslet/EPA

"A partir de Setembro, começaremos a reduzir progressivamente o número dos nossos soldados (...) porque a nossa opinião pública o exige", disse Berlusconi numa declaração ao primeiro canal da estação pública Rai.

O chefe de Governo italiano e a sua coligação de direita deram o seu apoio político e militar à ofensiva norte-americana no Iraque, tendo enviado para o país 3000 militares em Junho de 2003 para participarem numa "missão de paz", apesar da forte oposição de uma grande parte dos italianos e do próprio João Paulo II.

O contingente italiano, a quarta força militar da coligação internacional no Iraque, depois dos Estados Unidos, Reino Unido e Coreia do Sul, encontra-se sob o comando britânico na região de Nassíria, no sul do país.

As tropas de Roma foram alvo de vários ataques durante a sua missão no Iraque. Em Novembro de 2003, 17 militares e dois civis italianos foram mortos num atentado com um camião e cinco outros soldados perderam a vida durante confrontos armados ou em acidentes.

Nove cidadãos italianos foram ainda feitos reféns e três foram executados pelos seus sequestradores que exigiam a retirada das forças italianas do território iraquiano.

Porém, Silvio Berlusconi nunca cedeu, até à morte de um agente dos serviços secretos italiano, Nicola Calipari, por tropas norte-americanas perto do aeroporto de Bagdad, durante a libertação da jornalista Giuliana Sgrena. O caso abalou a opinião pública italiana, que pressionou o Governo a rever de imediato a sua posição na questão do Iraque.

"Sobre esse ponto, não há discussão. Os responsáveis devem ser encontrados e estou convencido que o Presidente Bush fará tudo o possível para que seja apurado o que se passou", sustentou Berlusconi esta noite, sublinhando que os "Estados Unidos não podem iludir um dos seus fieis aliados".

Washington já reagiu ao anúncio do chefe de Governo italiano, indicando que não tem qualquer ligação ao caso do agente Calipari. "Não entendi isso da parte dos responsáveis italianos", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. "Apreciamos certamente a contribuição dos italianos. Serviram e sacrificaram-se com os iraquianos e com outras forças da coligação", continuou McClellan, assegurando que a retirada italiana "será baseada na capacidade das forças iraquianas e do Governo iraquiano assumirem mais responsabilidades".

Apesar do seu anúncio, Berlusconi recusou-se, até agora, a falar sobre a estratégia de retirada do Iraque, considerando "ainda prematuro falar" sobre esse assunto. "Penso que poderemos tirar conclusões no final do ano", tinha já afirmado durante a cimeira da NATO, a 22 de Fevereiro, em Bruxelas.

Alguns dias depois, o ministro da Defesa italiano, Antonio Martino, deixou entender que o contingente italiano "poderia permanecer no Iraque até ao final do ano". Hoje, o Parlamento italiano votou o prolongamento da missão por seis meses, até ao final de Setembro. Todos os partidos da coligação governamental votaram a favor, enquanto a oposição votou contra em bloco. O anúncio da redução progressiva do número de soldados italianos chegou alguns minutos após a votação.

Berlusconi não deixou de assegurar que a retirada das tropas italianas "dependerá da capacidade do Governo iraquiano de se dotar de estruturas de segurança aceitáveis".

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