Utentes esperam 27 dias por uma consulta no centro de saúde

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O tempo médio de espera além da hora marcada no dia da consulta é de uma hora e 26 minutos Adriano Miranda/PÚBLICO

O trabalho, da autoria do director do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Pedro Ferreira, apresentado no Congresso de Clínica Geral, que decorre em Vilamoura, resultou de um inquérito que decorreu no final de 2004 e que ouviu 11.166 utentes dos 357 centros de saúde do país.

Segundo as conclusões do inquérito, 33 por cento dos utentes conseguem consulta para o próprio dia. Dos 67 por cento que não conseguem consulta no dia da sua marcação, apenas a cinco por cento foi dada uma explicação sobre a razão do atraso.

Metade dos restantes 95 por cento pensa que deveria ter sido dada uma explicação razoável sobre as razões do atraso, enquanto a outra metade, apesar de não ter obtido explicações, diz ter compreendido as razões do atraso.

Ainda de acordo com o mesmo estudo, um total de 17,8 por cento das marcações são feitas por telefone, mas a maioria (56,9 por cento) envolve a deslocação do utente ao centro de saúde. As restantes são combinadas com o médico ou efectuadas por uma terceira pessoa.

Por sua vez, 37,6 por cento dos utentes queixam-se da dificuldade em telefonar para os centros de saúde e a maioria (54,1 por cento) lamenta que não consiga telefonar ao clínico que o assiste.

O tempo de espera na sala é também tido como insatisfatório por 57,6 por cento dos utentes dos centros de saúde (só 18,5 o consideram bom) e a rapidez destas unidades na resolução de problemas é negativa para 45 por cento e positiva para 33,9.

O tempo médio de espera além da hora marcada no dia da consulta é de uma hora e 26 minutos e a falta de pontualidade de médicos, enfermeiros e pessoal administrativo é fortemente penalizada pelos utentes. Assim, a pontualidade dos médicos é considerada má para 50,3 por cento e só 24,5 a consideram boa. Os restantes 25,2 acham-na razoável.

Já um total de 42,9 por cento dos utentes está muito insatisfeito com a pontualidade enfermeiros, enquanto 22,5 acham que a pontualidade é excelente. Quanto ao pessoal administrativo, 45,9 por cento consideram que a sua pontualidade é má, contra 21,3 por cento que a classificam de excelente.

Os serviços prestados pelos centros de saúde são considerados muito maus para 61,2 por cento dos inquiridos. No que toca à rapidez nos serviços, 69,4 por cento estão insatisfeitos e só 12 por cento estão satisfeitos.

Os índices de respeito pelo utente também são considerados baixos: 42,7 por cento classificam-no de mau, contra 24,7 que o acham bom.

Os domicílios não satisfazem 61,2 por cento dos utentes e só deixam plenamente convencidos 17,4 por cento. Um em cada seis doentes recomendaria o seu médico de família a um amigo ou familiar.

Quanto ao atendimento na sua unidade de saúde, 48,7 por cento consideram que foram atendidos durante tempo suficiente; 60,3 por cento que o clínico demonstrou interesse no seu problema; 69,9 por cento que os pôs à vontade; 76,9 por cento que lhes garantiu confidencialidade; 68 por cento que os soube ouvir; e 61,3 por cento que houve envolvimento de parte a parte nas decisões.

Os índices gerais de competência, cortesia e carinho são negativos para a generalidade dos trabalhadores dos centros de saúde. No caso dos médicos, 43,5 por centro dos inquiridos acham-nos maus, contra 28,4 que os consideram bons. No que respeita aos enfermeiros, 38,8 por cento consideram-nos deficitários (27 acham que cumprem plenamente) e só 18,1 acham que os administrativos cumprem os índices gerais, contra 57,6 que consideram que não cumprem de todo.

Os resultados globais do estudo - encomendado à Faculdade de Economia pelo Instituto de Qualidade na Saúde - estão ainda a ser sistematizados e nos próximos 30 dias deverão ser apresentados mais elementos, nomeadamente no que respeita às assimetrias regionais, segundo disse à Lusa o seu autor, Pedro Ferreira.