Na Paz

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No círculo musical de Fernanda Abreu há muito funk, muito Benjor, ideias rebeldes e um forte desejo de experimentação. "Na Paz", súmula de tudo isto e também do cruzar de culturas e sons que marca este milénio, é o seu disco mais trabalhado, cuidadoso e também mais arriscado, porque não se apresenta fácil sob a máscara do óbvio.

As armas com flores na ponta da capa (com variantes pseudo-hippies no interior) sugerem um disco militante ou "naif", quando na verdade Fernanda Abreu se esforçou para lapidar cada tema até ao mais ínfimo pormenor, explorando as potencialidades da electrónica, a sabedoria de parceiros mais ou menos ocasionais (Rodrigo Campello, Fausto Fawcett, Sacha Amback, Ivo Meireles, Davi Moraes, Marcos Suzano) e as "coincidências astrais" dos convidados: Martinho da Vila em "Brasileiro", adaptação de um tema do angolano Teta Lando; e Jorge Benjor encaixando o seu "Charles Anjo 45" em "Zazuê".

As feridas do Brasil ouvem-se por todas as onze faixas. Mas a bofetada, sob a forma de rap, está em "Padroeira debochada". Mesmo assim, tem flores na ponta.

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