Cientista português desenvolve técnica de clonagem mais simples

Ian Wilmut, o "pai" da mais famosa ovelha do mundo, conhecida por Dolly, é o orientador da tese de doutoramento de um investigador português, Ricardo Ribas, que está a tentar perceber os factores que influenciam a clonagem de embriões, num estudo que poderá permitir encontrar novas técnicas para a transferência de núcleos.Tudo está a acontecer desde Outubro de 2002, nos laboratórios do Roslin Institute, em Edimburgo. O escocês Wilmut fala sobre o "surpreendente" projecto de clones, com paternidade portuguesa. O trabalho produziu já um ratinho clonado com a nova técnica.Ricardo Ribas, licenciado em Medicina Veterinária no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e graduado nas áreas de Biologia Básica e Aplicada, só deverá falar sobre o seu projecto quando este chegar ao fim, dentro de cerca de cinco meses. Neste momento, a palavra é do orientador da sua tese de doutoramento, Ian Wilmut.A investigação de Ricardo Ribas pretende simplificar o processo de clonagem sem prejudicar a eficiência, observando as consequências da nova técnica para o desenvolvimento das células e embrião. "Ele está a fazer duas coisas: uma é aplicar no rato um método simples de transferência nuclear; a outra é olhar para as células e embriões produzidos por transferência nuclear e tentar perceber as diferenças em relação às produzidas pelo acasalamento tradicional", explica Wilmut. A nova técnica consiste no uso do ovócito após a remoção da zona pellucida - uma camada protectora do ovócito e o embrião nos primeiros estágios de desenvolvimento. "Inesperadamente, faz com que a manipulação seja mais fácil", revela o investigador escocês. Uma das principais vantagens do novo método será a simplicidade, o que facilitará a prática em laboratório. "O procedimento 'tradicional' de clonagem demora cerca de seis meses a aprender - este novo método pode ser ensinado em algumas semanas", constata Wilmut, notando, porém, que a nova técnica ainda não está optimizada e, por isso, a taxa de sucesso é inferior ao método "tradicional" - entre um e cinco por cento. Ainda assim, o novo método já teve sucesso. Em Junho passado, foi produzido o primeiro rato após remoção da zona pellucida, que até ao momento não tem irmãos. "Ainda não fizemos mais nenhum porque estamos centrados em perceber os efeitos que sofreu. A remoção da zona pellucida modificou as células, [fazendo com que adquirissem] formas totalmente inesperadas. Ainda não percebemos completamente o que se passa", conta Ian Wilmut. "Estamos a exigir demasiado do ovo"A curto prazo, não está previsto que a técnica de Ricardo Ribas seja aplicada noutras espécies. "As experiências estarão concluídas dentro de quatro, cinco meses e penso que é mais importante concentrarmo-nos no rato", diz Wilmut. Desde o nascimento da ovelha Dolly, há oito anos, muitos outros bichos já foram clonados. Mudanças genéticas foram introduzidas em animais por transferência nuclear - remoção do núcleo de uma célula que é colocado num ovócito "vazio" - a partir de células de cultura modificadas. Além da baixa taxa de sucesso, para Wilmut o processo de clonagem é ainda muito complexo e desperta muitas perguntas. Aliás, o investigador acha que está na hora de mudar de rumo. "Estamos a exigir demasiado do ovo. Quando fazemos uma transferência do núcleo, tiramos informação genética - no caso da Dolly, a célula era de um tecido mamário e, por isso, estava organizada para produzir leite - e transferimos para um ovo que tem de funcionar para suportar o desenvolvimento. Esperamos que as proteínas que estão no ovo consigam fazer essa mudança. É muita coisa que se está a pedir ao ovo para fazer. E, por isso, não é surpreendente que, apesar de funcionar algumas vezes, não aconteça muito frequentemente", reconhece. O investigador considera mesmo que se a investigação continuar assente no procedimento "tradicional" para realizar a transferência do núcleo "nunca será muito eficiente". "O procedimento que definimos no início não resulta bem. É quase preciso um milagre", conclui, apontando o caminho do futuro para uma busca de novas formas de intervir no dador da célula de forma a aumentar a eficiência. "Temos de nos concentrar no dador, continuar a trabalhar sistematicamente, fazer perguntas cautelosas e esperar pelo próximo pedaço de sorte", receita.Ian Wilmut estará hoje e amanhã em Portugal para falar sobre clonagem. A primeira conferência, intitulada "Clonagem na Biologia e na Medicina", tem lugar esta tarde no auditório da Reitoria da Universidade do Porto. Amanhã, o tema a discutir no auditório do Campus Agrário de Vairão, em Vila do Conde, às 14h30, será "Clonagem: O estado da arte".

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