Maioria das casas vagas de Lisboa está em bom estado

Dois terços das habitações vagas em Lisboa estão em bom estado: 40 por cento não necessitam de obras e 26 por cento ficariam habitáveis com pequenas reparações. Apesar disso, 70 por cento dos fogos desocupados da cidade, o equivalente a 28.488 mil casas, encontram-se fora do mercado imobiliário, não estando nem para venda nem para alugar. Estas são algumas conclusões da segunda parte de um mega-estudo sobre Lisboa, hoje tornada pública. Composta por dois volumes, um diagnóstico sócio-urbanístico da cidade e outro incidindo sobre o mercado imobiliário, ela traça um cenário de uma cidade de paradoxos. Se, por um lado, há 16 mil habitações vazias prontas a ocupar sem quaisquer obras - "tomando o índice de ocupação média de residentes por alojamento, poderiam proporcionar espaço de residencialidade para perto de 39 mil indivíduos" -, por outro, existem cerca de 50 mil lisboetas a viver em casas degradadas ou a precisar de grandes obras. Coordenado pelo especialista em planeamento urbano João Seixas, a pedido da Câmara de Lisboa, o mega-estudo contou com a colaboração de várias instituições públicas e privadas. O departamento de edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil trabalhou no diagnóstico sócio-urbanístico, que, tal como o resto da investigação, se baseou muito em dados dos Censos de 2001. É nas zonas de Arroios, do Castelo (área na qual o estudo inclui as áreas de Alfama e da Sé) e de Campo de Ourique que se detectam mais fogos vazios. Mas o seu impacto - ou seja, a proporção destes no parque habitacional - revela-se particularmente forte no centro histórico: Baixa, Cais do Sodré, Santos e Estrela, locais onde as razões de desocupação das casas radicam muitas vezes no seu estado de degradação. O caso do Cais do Sodré é dos mais dramáticos da cidade: metade dos edifícios estão em mau estado de conservação e 30 por cento encontram-se sem habitantes.Habitantes descem, habitações sobemMas por que razão há, noutras zonas da cidade, tantas casas fechadas em bom estado? Na zona Norte do Lumiar, por exemplo, só nove em cada cem fogos vagos se encontram para venda ou aluguer. A especulação é um dos motivos óbvios para o fenómeno, a par do congelamento das rendas. Há a noção de que é mais rentável comprar uma casa do que ter o dinheiro no banco. Mas existem mais explicações para tal "desperdício social e económico", que "não só contribui para um contínuo empobrecimento da identidade cultural e cívica como pode acarretar alguns tipos de ameaças, pela proliferação de 'espaços vazios'".Mesmo nos bairros onde subiu o número de habitações para vender ou arrendar isso nem sempre se traduziu num efectivo aumento do número de habitantes: em muitas zonas, "a expansão física da função residencial não encontrou resposta do lado da ocupação".Entre 1991 e 2001, a cidade perde cem mil habitantes, parte significativa dos quais vão para os concelhos de Sintra e de Loures. Ao mesmo tempo, o número de alojamentos disponíveis em Lisboa sobe. Um dado que pode ajudar a perceber o esvaziamento da cidade é o facto de cada vez mais certos apartamentos funcionarem mais como segunda residência, sendo ocupados apenas alguns meses por ano ou alguns dias por semana. Alguns dos que decidem fixar residência noutro concelho continuam a manter casa em Lisboa. As residências não habituais constituem dez por cento do parque residencial ocupado da cidade. Os investigadores depararam com "vastas zonas da cidade" com "mais de 50 por cento dos alojamentos com uma renda média abaixo dos 60 euros por mês". Em bairros como a Baixa, Lumiar Norte e Carnide Sul, as rendas médias quase desapareceram: imperam os arrendamentos caros e também os alugueres de valor irrisório. Embora metade dos edifícios em más condições sejam anteriores à II Guerra Mundial, este trabalho revela um dado considerado preocupante: "Quase dez por cento dos edifícios em mau estado são de construção ou reconstrução posterior a 1981".

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