Nobel da Literatura para escritora austríaca Elfriede Jelinek

Foto
Elfriede Jelinek Hans Klaus Techt/EPA

A escritora austríaca Elfriede Jelinek foi hoje laureada com o Prémio Nobel da Literatura. O comunicado da Academia Sueca destaca "o fluxo musical das vozes e contra-vozes presente nos romances e peças" da escritora que, com "extraordinário zelo linguístico", revelam o "absurdo dos clichés da sociedade".

A autora de 57 anos, considerada uma das mais importantes da sua geração na Alemanha e na Áustria, tem já editado em português a sua obra "Lust", pelas Edições ASA, uma obra que trata do sexo, do prazer e da pornografia. Os livros de Jelinek acabam, quase sempre, por provocar celeuma na Áustria, entendidos por provocadores e polémicos.

Elfriede Jelinek nasceu a 20 de Outubro de 1946 na cidade de Murzzuschlag, na província austríaca de Styria. O pai, judeu de origem checa, era químico trabalhou em produção industrial estratégica durante a Segunda Guerra Mundial, conseguindo com isso escapar à perseguição nazi. A mãe era oriunda de uma família abastada de Viena, e Elfriede cresceu e fez a escola na capital. Desde muito cedo que Jelinek aprendeu piano, tendo chegado a frequentar o Conservatório. Ingressou igualmente na Universidade de Viena, para estudar Teatro e História da Arte, ao mesmo tempo que prosseguia os seus estudos musicais. O facto da mãe querer fazer de Jelinek um génio da música acaba por transtornar a escritora, tendo este "braço-de-ferro" originado o argumento do filme "A Pianista", de Michael Haneke, com Isabelle Huppert.

Elfriede Jelinek começou muito cedo a escrever poesia e fez a sua estreia literária em 1967, com 21 anos, na colecção Lisas Schatten. Tomando contacto com os movimentos estudantis, a escrita de Jelinek tomou um rumo crítico. Em 1970 saiu a sua novela satírica "wir sind lockvögel baby!". A escrita da autora prima pela "rebelião linguística", destinada à cultura popular e àquilo que considera a "boa vida", estima a Academia Sueca.

Depois de alguns anos em Berlim e Roma, no início da década de 70, Jelinek casa-se com Gottfried Hungsberg e passa a dividir o tempo entre Viena e Munique. Jelinek foi conquistando o público alemão com as suas novelas "Die Liebhaberinnen" (1975), "Die Ausgesperrten" (1980) e com a sua autobiografia "Die Klavierspielerin" (1983, "A Pianista"), que originou o filme já referido, de Michael Haneke, em 2001.

A natureza dos textos de Jelinek é difícil de definir, aponta a Academia Sueca, que diz que as suas composições variam "entre a prosa e a poesia, o encantamento e o hino, que contêm sequências teatrais e fílmicas". Constante tem sido a sua caminhada em direcção à escrita de dramas, partindo dos romances. Os mais recentes dramas publicados pela autora, os chamados "dramas da princesa" ("Der Tod und das Mädchen I-V", 2003), são variações daquilo que é um dos temas básicos da autora: a impossibilidade da mulher conseguir marcar a sua posição num mundo que a pinta com imagens estereotipadas.

Sugerir correcção
Comentar