Laboratório Europeu de Física de Partículas celebra 50 anos

Na planície entre o Lago Genebra e as Montanhas do Jura, junto à fronteira entre a Suíça e a França, nasceu o que é agora o maior laboratório de física de partículas do mundo, utilizado por cerca de 6500 cientistas e engenheiros. Entre estes, estão já várias gerações de investigadores portugueses, para quem a colaboração o primeiro grande laboratório internacional se tornou algo essencial e, para os mais novos, natural.

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O meio século de vida começa a ser assinalado hoje, por volta das 21h00, com um bolo de aniversário CERN

Faz hoje 50 anos que o maior laboratório de física de partículas do mundo, o CERN, foi oficialmente criado. Empobrecidos pelos seis anos da II Guerra Mundial, os países da Europa não podiam financiar sozinhos os dispendiosos instrumentos para a investigação e viam os físicos e outros cientistas emigrar para os EUA.

Neste contexto do pós-guerra, o francês Louis de Broglie, galardoado com o Nobel da Física em 1929, propôs em 1949, na Conferência Europeia de Cultura de Lausanne, a criação de um laboratório europeu de física de partículas. A 29 de Setembro de 1954 nascia o CERN, na Suíça, na planície entre o Lago Genebra e as Montanhas do Jura.

Nem sempre se chamou Laboratório Europeu de Física de Partículas. Os resquícios do nome antigo estão na sigla que continua a estar-lhe associada - CERN. Em 1952, 11 países decidiram criar um órgão provisório - o Centro Europeu para a Investigação Nuclear, ou CERN, na sigla francesa.

Numa reunião em Paris, de 29 de Junho a 1 de Julho de 1953, a convenção que estabelecia a organização foi assinada por 12 países e entrou em vigor a 29 de Setembro de 1954. Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França, Grécia, Itália, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Reino Unido e Jugoslávia foram os 12 fundadores.

Surgia, então, uma das primeiras organizações científicas internacionais, que viria a tornar-se um modelo para outras na Europa, como o Observatório Europeu de Astronomia, a Agência Espacial Europeia ou o Laboratório Europeu de Biologia Molecular (Portugal faz parte de todas, e inclui-se também nos actuais 20 países-membros do CERN). Mais tarde, como a expressão "nuclear" levantava receios e dava a entender outro tipo de actividades, o nome do laboratório foi alterado, mantendo a sigla, já muito conhecida.

O meio século de vida começa a ser assinalado hoje, por volta das 21h00, com um bolo de aniversário: quem nasceu em 1954 pode ir lá soprar as velas. Uma hora antes, vai ser iluminado o túnel circular onde funcionou o acelerador de partículas Large Electron-Positron Collider (LEP), de 1989 até 2000, data em que foi encerrado para ceder o lugar ao novo acelerador, o Large Hadron Collider (LHC). É nesse túnel, de 27 quilómetros de circunferência e a 100 metros de profundidade, na fronteira franco-suíça, que começou em 1999 a construção do LHC.

Deverá começar a funcionar em 2007, e aí os físicos esperam aprofundar como nunca os conhecimentos sobre a matéria e as forças fundamentais que a regem. Esta máquina única, que custa cerca de dois mil milhões de euros, irá acelerar dois feixes de partículas - protões - quase à velocidade da luz, em direcções opostas, fazendo-as colidir em quatro pontos. Aí estarão as quatro grandes experiências do LHC, compostas por vários detectores - Atlas, CMS, ALICE e LHCb -, embora haja uma quinta experiência, designada Totem, que fará medições nas outras.

Cada feixe de protões será acelerado a uma energia da ordem de 6,5 tera electrão-volts (TeV). Como os feixes vão um contra o outro, soma-se a energia total, que assim chegará aos 13 TeV. (Um tera é um milhão de milhão, e essa é a energia cinética de um mosquito em voo). Os 13 TeV representam quase dez vezes mais a energia do acelerador actualmente mais potente, o Tevatron, no Fermilab, em Batavia, EUA, explica um artigo na revista "Science".

O que torna o LHC extraordinário é que as partículas são muito pequenas e a sua energia está extremamente concentrada. Por isso, enquanto da colisão de dois mosquitos em pleno voo ninguém espera que resultem novas partículas, da colisão de protões com a energia cinética dos mosquitos os cientistas esperam ver criada matéria. É isso que os vários aceleradores de partículas do CERN têm feito: nas colisões são criadas novas partículas, uma vez que uma parte da energia da aceleração é transformada em matéria, corporizando literalmente a famosa igualdade de Albert Einstein E=m2. Depois, detectores procuram captar os resultados dessas colisões.

Com uma máquina inigualável como o LHC, os cerca de 6500 cientistas e engenheiros que utilizam as instalações do CERN, de 80 países - incluindo os EUA, já que estes abandonaram em 1993 o projecto de construir um enorme acelerador de partículas no Texas -, desejam obter respostas para grandes interrogações. De que é feita a matéria? De que é feito o Universo e por que é como é? Nesta senda ao infinitamente pequeno e infinitamente grande, inclui-se a procura de uma famosa partícula, o bosão de Higgs, que explicaria por que todas as outras têm massa. Por ora, é só uma miragem.

O grande dia das festividades será a 16 de Outubro, quando o CERN abrir as portas ao público. Esperam-se 20 mil visitantes. Os países-membros estão a organizar algumas iniciativas e Portugal não será a excepção. O Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, com sede em Lisboa, está a organizar palestras para Outubro e, em Novembro, uma festa da física das partículas.

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