Strategies And Survival

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É um disco de cumplicidades, de vozes quentes, de palavras discorridas em registo falado, de sons digitais em cruzamento com apelos instrumentais e temperaturas jazzísticas, arquitectados para que seja tudo dito como se o silêncio fosse o interlocutor mais directo.

Espaço, muito espaço, preenchido pelos interlúdios em forma de reflexões da artista plástica Berry Bickle, pelo balanço dos ritmos vagamente inspirados no hip-hop, na bossa nova, no jazz, nas vagas de sensualidade da soul ou nas palpitações que estabelecem pontes com a realidade urbana da diáspora africana, como na pequena faixa escondida.

Aqui, em primeiro lugar, acredita-se nas ideias, que são expostas sem grandes alardes técnicos. Confia-se nos desígnios que se persegue, como se cada canção se limitasse a seguir um motivo. É verdade que algumas ideias necessitavam de ser mais amadurecidas, mas isso é compensado pela generosidade e intuição com que tudo é modelado.

É um desses discos urbanos que expõe "nada mais do que um pensamento mestiço", como recita Kalaf em "Começo", ao mesmo tempo que a música tenta que "tudo se relacione em rede", num disco com vontade de assimilar a realidade à sua volta, feito na cave escura da Enchufada, "enquanto o sol brilha lá fora".

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