Sócrates acusa Governo de "estreiteza de espírito" na gestão do caso "Women on Waves"

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José Sócrates diz não temer uma eventual união das duas candidaturas adversárias Miguel Ribeiro Fernandes/Lusa (arquivo)

"Concorde-se ou não com a iniciativa da organização holandesa, é sempre bom termos respeito pelas ideias dos outros", afirmou José Sócrates à entrada para um jantar debate do Clube Chiado, presidido pelo socialista e ex-membro da administração provisória do Iraque José Lamego.

"Proibir a entrada do navio em Portugal foi uma atitude que demonstra a estreiteza de espírito do Governo", declarou o candidato à liderança dos socialistas.

Os três candidatos à liderança do PS defendem a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, mas a candidatura de José Sócrates demarcou-se de Manuel Alegre e de João Soares ao sustentar que a mudança da legislação só pode ser feita através de um referendo.

O barco da "Women on Waves", de nome "Borndiep", equipado com uma clínica ginecológica que permite realizar abortos até às seis semanas e meia de gravidez, com recurso à pílula abortiva, foi sexta-feira impedido de entrar em Portugal pelo Governo. A decisão, já contestada pelos partidos da oposição, foi justificada com motivos de "respeito pelas leis nacionais" e questões de "saúde pública".

Não há "razão para se falar em medo no PS"

José Sócrates repudiou as afirmações de Manuel Alegre, que disse haver medo entre os militantes socialistas.

Sem nunca se referir especificamente ao seu adversário na luta pela liderança do partido, Sócrates afirmou "não haver razão para se falar em medo no PS". "Se há medo, é de alguém que tem medo de perder o debate e as eleições [para o cargo de secretário-geral do PS]. O PS deu já provas de democracia, de liberdade e de debate", acrescentou o ex-ministro do Ambiente de António Guterres.

José Sócrates afirmou ainda não temer a possibilidade de uma desistência de João Soares ou de Manuel Alegre na corrida à liderança do PS. "A possibilidade de um deles desistir - e apoiar o outro - não me incomoda. Mas penso que eles são candidatos para ir até ao fim", observou o ex-ministro do Ambiente.

António Vitorino: "Sempre que venho a Portugal sou candidato a qualquer coisa"

Também presente no jantar de apoio a José Sócrates, António Vitorino reiterou a intenção de reassumir o "papel de militante activo" do PS logo que termine formalmente o seu mandato de comissário europeu, o que acontecerá a 31 de Outubro. Embora afirme não pôr de lado nenhuma possibilidade sobre o seu futuro político, António Vitorino recusou assumir uma eventual candidatura à Presidência da República, ou mesmo a um lugar na futura direcção do PS. "Sempre que venho a Portugal sou candidato a qualquer coisa. Deixem-me estar de férias", disse.

"Percebo que me queiram encaixar em algum lado, mas sinto-me muito livre", respondeu ainda.