Campo Maior volta a florir até ao próximo fim-de-semana
Uma das cantadeiras do grupo, Carminda Contradanças, que muitas flores fez também para enfeitar as ruas, e que às 11h30 de ontem ainda não se tinha deitado, pois acabara de "enramar" a sua rua às 7h30, lembra os "meses e meses de trabalho" de preparação das festividades. No dia da inauguração ninguém consegue parar: "Neste dia damos tudo o que temos dentro de nós", dizia, aliviada.
Esta energia e este espírito são comuns a todos os habitantes da vila, que durante os dias das festas vêem a sua rotina completamente alterada. A azáfama em que se vêem mergulhados até à recepção dos primeiros visitantes não termina com os discursos oficiais de boas vindas, pelo contrário: desde que começam as festas até que acabam, a população tem entre mãos o acomodar das visitas que lhe entram pela vila e pelas portas adentro. Sem esquecer o fabrico de mais flores de papel, para ir repondo as que são danificadas.
As cantadeiras do grupo estavam preparadas para actuar para o Presidente da República, Jorge Sampaio, convidado para a cerimónia. Mas o que mais ansiavam eram "as actuações espontâneas" que ocorrem pela vila, sobretudo à noite, e se prolongam até de madrugada, proporcionadas não só pelo seu grupo, o único formal, mas por todos os que se juntam em casa uns dos outros ou pelas ruas e cantam e dançam debaixo dos tectos floridos.
Empregada de uma boutique, Ana Conceição não pode ir ao jardim assistir à inauguração das Festas do Povo porque está a trabalhar, numa jornada que também traz contínua, sem ver a cama desde quinta-feira. "Nos dias das festas as mulheres quase não dormem com os maridos. Se nos querem ver, eles e os filhos têm que vir aos nossos trabalhos", conta.
O comércio alarga o horário de funcionamento "até às dez da noite, ou mais, até que haja movimento nas ruas que o justifique", sem interrupção de almoço. Além de transformarem os seus pacatos lares em verdadeiros hotéis e restaurantes, os familiares e amigos que quase todos os moradores recebem em suas casas nesta ocasião constituem uma ajuda preciosa na "enramação", que é a colocação de todas as flores e enfeites nas ruas. Todos os anos, na véspera da inauguração, é com eles que os habitantes contam, prossegue Ana Conceição.
Por norma, as mulheres fazem flores e para os homens ficam os trabalhos mais pesados, como a montagem das armações de madeira que sustentam as trepadeiras e outras estruturas floridas.
O passaporte do visitante é uma das novidades introduzidas este ano nas festas. O porta-voz da associação organizadora, Bruno Batista, enumera entre as inovações "toda a zona de lazer instalada no jardim", onde se encontra "uma roda gigante de 42 metros de altura, de onde se perspectiva toda a vila".
As flores chegam às ruas graças ao apoio da autarquia, mas sobretudo por via das receitas arrecadadas pela organização nos parques de estacionamento pagos e e na venda de produtos alusivos ao evento. Os donativos dos patrocinadores também não são de desprezar. Em 2000, último ano de realização das festas, Campo Maior recebeu milhão e meio de visitantes. Este ano, o objectivo é que as 86 ruas em flor chamem dois milhões de pessoas.