"Este facto, bem como muitos outros que se têm registado em diversos bairros municipais e um pouco por toda a cidade, são demonstrativos do dramático agravamento das condições sociais no Porto em resultado do aumento do desemprego e da degradação de pensões e salários", afirmou hoje Rui Sá, em conferência de imprensa.

Na segunda-feira, filhos de moradores daquele bairro, alegando estar viver em casas sobrelotadas e cansados de esperar pela atribuição de uma habitação, ocuparam dezenas de apartamentos municipais, recorrendo a picaretas para entrar nos fogos devolutos, que estavam entaipados com tijolos e madeira.

O autarca comunista — que funciona como "fiel da balança" no actual executivo camarário, composto por seis vereadores socialistas, quatro do PSD, dois do CDS e um da CDU — sustentou que a ocupação indevida dos fogos demonstra que "os moradores dos bairros começam a dar mostras de saturação relativamente às políticas habitacionais que a maioria de direita tem vindo a implementar".

Ontem, o vereador Paulo Morais, responsável pelo pelouro da habitação, afirmou, em conferência de imprensa, que a ocupação daquelas casas foi "uma acção selvagem a fazer lembrar o PREC". O autarca garantiu que, além de apresentar queixa contra os prevaricadores, a autarquia pretende transmitir ao Ministério Público "indícios" de que estas pessoas terão sido "instigadas e manipuladas" a ocupar as casas.

Para Rui Sá, as afirmações "autistas" de Paulo Morais demonstram a sua "falta de sensibilidade para a realidade", atirando para os moradores as responsabilidades pela actual situação.

"Efectivamente, a câmara do Porto não está a conseguir recuperar as habitações que ficam devolutas, mantendo-as fechadas durante anos, entaipadas, com lixo no seu interior, ao mesmo tempo que não dá resposta às gritantes carências habitacionais com que se debatem milhares de famílias da cidade", frisou.

Face aos acontecimentos no bairro do Lagarteiro, Rui Sá exige saber quantas habitações municipais estão devolutas ou a necessitar de obras e há quanto tempo é que as mesmas se encontram nesse estado.