Homem recebeu um maxilar novo feito à medida

A técnica é descrita esta semana na revista médica britânica "The Lancet", e também o desenlace da operação, que por ora parece ter dado bons resultados: quatro semanas depois da cirurgia, o homem mastigou a sua primeira refeição em nove anos: salsichas e pão.

A engenharia de tecidos para transplantes é um sonho que começa a tornar-se realidade - produz-se já pele artificial e osso. Pode parecer ficção científica, mas fazem-se suportes em materiais compatíveis com o organismo, que depois são semeados com células dos tecidos que se pretendem reconstruir, juntamente com substâncias químicas que estimulam a proliferação celular. Foi o que os investigadores alemães e australianos fizeram agora.

Este homem tinha retirado parte do maxilar há oito anos quando a equipa começou a tratá-lo, devido a tumor que teve de ser retirado. Parte da cabeça e do pescoço tinha sido também afectada pela radioterapia que teve de fazer. Para tentar compensar o defeito no rosto, com cerca de sete centímetros, tinha recebido já uma prótese de titânio, mas não lhe trazia grandes benefícios. Alimentava-se apenas de líquidos e sopas, relata a equipa de Patrick Warnke, da Universidade de Kiel (Alemanha).

O tratamento que normalmente se tenta é o de colher osso noutra parte do corpo, para fazer um transplante. "Estas técnicas de transplantação são utilizadas com sucesso em vários centros de cirurgia do cancro em todo o mundo. Mas têm uma grande desvantagem: o processo de colheita destes enxertos de osso criam sempre outra forma de morbilidade", escrevem os investigadores na "The Lancet". Foi com o objectivo de contornar este problema que a equipa decidiu tentar uma nova abordagem, solicitando a aprovação do comité de ética da Universidade de Kiel.

Foram feitos exames de tomografia computorizada axial (TAC) de três dimensões ao crânio do paciente, para determinar quais seriam as dimensões e morfologia ideais de uma prótese do maxilar. Depois, foi produzido um suporte com essas dimensões numa espécie de rede de titânio. Lá dentro foram colocados blocos minerais de osso - biomateriais com aplicação na biomedicina, e que são já comercializado. Depois, estes foram cobertos com uma proteína que estimula a maturação de células indiferenciadas dos ossos, chamada BMP7, diluída em colagénio de bovinos. Finalmente, na mistura foram injectadas células colhidas na medula óssea do paciente, sobre as quais se esperava que o factor de crescimento BMP agisse.

Investigações com mini-porcos - animais de laboratório criados de propósito para estudar a possibilidade de transplantar órgãos de animais para humanos - sugeriam que a proteína BMP7 seria particularmente eficaz a fazer com que as células ósseas maturassem e se multiplicassem se fossem implantadas debaixo de um músculo das costas, cuja designação em latim é "latissimus dorsis". Portanto, foi isso que os cientistas fizeram: implantaram a rede de titânio com a mistura de células e proteínas nas costas do paciente. O implante ficou lá durante sete meses, para que se criassem células ósseas. Ao fim desse tempo, o homem foi sujeito a nova cirurgia, para remover este implante e colocá-lo no maxilar. A área de intervenção foi coberta com um enxerto de pele.

A descrição de todo o processo torna irreprimível um arrepio; mas quatro semanas depois, o paciente foi capaz de mastigar a sua primeira refeição em nove anos, as tais salsichas com pão. "Antes da reconstrução, só conseguia comer comidas passadas e sopa", dizem os cientistas, que garantem que o paciente ficou satisfeito esteticamente.

O processo, no entanto, ainda não terminou: os investigadores esperam que seja possível remover a rede de titânio passado um ano sobre o transplante, se a mineralização do novo osso do maxilar o permitir. A ideia é mesmo ter um novo osso, no qual poderá ser possível colocar implantes dentários, para ajudar a mastigação.

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