Santana Lopes aponta como metas o crescimento económico e a justiça social
Numa longa entrevista à revista "Visão", Pedro Santana Lopes refere que assumiu o poder numa altura em que o país vive uma "tendência de crescimento consolidada, em bases seguras" e afirma que o seu "grande objectivo" é ser o "primeiro-ministro do crescimento económico, do crescimento sustentado e da justiça social".
"Não abdico da consolidação orçamental, mas a grande necessidade de Portugal é crescer e dar um salto em termos de qualidade no desenvolvimento. A única possibilidade que temos de alcançar o progresso é criando mais riqueza, através do aumento da produtividade e do investimento", justifica o chefe de Governo.
Para atingir estes objectivos, Santana Lopes quer um "entendimento social efectivo" e mostra-se disposto a "concretizar o Pacto para a Competitividade e o Emprego" com as duas maiores centrais sindicais, a UGT e a CGTP.
Ainda no plano económico, o primeiro-ministro admite alienar algumas participações do Estado para gerar receita com vista a cumprir o défice orçamental, adiantando também que haverá no próximo ano aumentos para todos os escalões da função pública, "a não ser que factores excepcionais aconteçam".
Santana Lopes diz ainda que o IRC não vai baixar no próximo ano, "embora não afaste essa possibilidade no futuro", e que a descida no IRS será "ao nível dos escalões".
Sobre a crise provocada pelo alegado furto de cassetes ao jornalista do "Correio da Manhã" Octávio Lopes, o primeiro-ministro reafirma a sua confiança no procurador-geral da República.
"Não tenho razões para ter alguma dúvida sobre a integridade do senhor procurador em relação à pessoa da sua equipa relativamente à qual havia dúvidas nessa matéria [violação do segredo de justiça]", acrescenta.
O chefe de Governo escusa-se a comentar a necessidade de a ex-ministra da Justiça Celeste Cardona se explicar sobre eventuais manipulações do director nacional da Polícia Judiciária no processo Casa Pia.
Acerca das Presidenciais de 2006, o primeiro-ministro admite que "ainda é cedo para falar" mas que é "natural" que venha a apoiar Cavaco Silva caso este venha a candidatar-se.
Santana Lopes refere que "as próximas eleições presidenciais serão disputadas num cenário de candidatos com uma independência ainda maior em relação aos partidos do que aconteceu anteriormente", adiantando que a questão presidencial, no PSD, vai ser resolvida em Conselho Nacional no próximo ano.
Sobre o seu futuro, Santana Lopes assegura que se vai candidatar a primeiro-ministro em 2006, se Deus lhe "der vida e saúde".
Santana Lopes começa por afirmar na entrevista que, "na verdade", nunca pensou chegar a primeiro-ministro da forma como chegou, mas entende que tem o apoio da "esmagadora maioria" do partido e que não se sente diminuído pelo facto de não ter sido conduzido para o cargo através de eleições.
"Se tivesse sido culpa minha, se tivesse sido eu a pedir para não haver eleições, sentia-me diminuído. Mas por causa do País, do que é melhor para Portugal, não me sinto diminuído", disse.
Explica também que "foi muito exigente formar um Governo, escolher ministros, secretários de Estado, fazer programa de Governo, coordenar e estudar dossiers" em apenas "três semanas", admitindo que teve uma entrada em funções que não foi, nem tido sido, fácil.
Sobre a formação do Governo, Santana Lopes contou que começou por estudar as "orgânicas actuais" dos governos da União Europeia e só depois formulou os convites, ouvindo para esse efeito apenas o primeiro-ministro cessante, Durão Barroso.
Quanto a pressões, Santana Lopes afirma que não convidou nenhuma daquelas pessoas que enviaram "recados" para serem ministros.
O primeiro-ministro conta ainda que as dificuldades que sentiu ao ler o seu discurso na tomada de posse do Governo se deveram ao facto de não se sentir bem fisicamente e de se registarem, na sala, "48 graus e uma humidade horrível".
Santana Lopes refere que escolheu viver em S. Bento porque quer ter mais tempo para trabalhar e recusa a acusação de que tem muitos seguranças, afirmando que só tem os que lhe são devidos, recusando-se ainda a confirmar eventuais ameaças de que terá sido alvo.
Também no que diz respeito aos assessores dos seus ministros, o primeiro-ministro diz que não deu autorização para que tivessem mais dos que os que são permitidos por lei.
A imagem do novo primeiro-ministro é também abordada na longa entrevista, com Santana Lopes a negar qualquer preocupação deste tipo e desmentindo também a contratação, por si, de uma "especialista do social". "Da minha imagem trato eu", afirma.