Roubo de "O Grito" e "Madona" à espera de pistas
Com a reconstituição do crime agora feita, sabe-se que os assaltantes entraram na instituição não pela porta principal mas através do café, que tem uma porta exterior própria e passagem para o interior do museu.
Seriam 11h00 quando o assalto começou. Um dos homens armados avançou apenas até um cruzamento de corredores a metros entre o café e o local onde "O Grito" e "Madona" estavam expostos em paredes contíguas. Daí tinha ainda visibilidade sobre a entrada principal do museu, bem como controlo sobre a saída de visitantes da sala central de exposições.
Por entre os cerca de 80 visitantes que circulavam no museu - e que acharam estar no meio de um atentado terrorista - um segundo assaltante continuou sozinho até ao local e, dizem testemunhas, arrancou as obras da parede, mantendo um elemento da segurança do museu sob ameaça de uma arma apontada à nuca.
Não houve disparos nem alarmes a ressoar pelo espaço - segundo responsáveis do museu, a política de segurança da instituição aposta num sistema de alarmes silenciosos que alertam um posto de polícia a escassos minutos de distância. Uma patrulha ligada a essa esquadra terá, de facto, chegado em 15 minutos.
Nessa altura, porém, os assaltantes tinham já escapado. Saíram pela porta principal do museu. Do outro lado da rua um terceiro elemento do grupo aguardava com um Audi preto que acabou por ser encontrado horas depois num local da cidade não especificado pela polícia. No percurso até ao veículo um dos quadros caiu duas vezes, dizem testemunhas que chegaram mesmo a fotografar os assaltantes no exterior do museu.
Essa atrapalhação é um dos indícios que levam Charles Hill, um antigo investigador da Scotland Yard que em 1994 investigou o roubo de outra versão de "O Grito", a minimizar os assaltantes. Segundo ele, tratar-se-ão de amadores, sem conhecimento das dificuldades de transacção deste tipo de objecto, e não verdadeiros profissionais do roubo de arte, um negócio que actualmente movimenta mais de 4 mil milhões de euros por ano e que é o terceiro ilícito mais lucrativo do mundo, depois do tráfico de droga e armas.
Mas o perfil amador não corresponde ao do caso que Hill investigou há dez anos. Nessa ocasião o roubo deu-se na Galeria Nacional de Oslo, a que pertence a versão mais conhecida e provavelmente a mais importante das quatro que Munch pintou de "O Grito" (aquela em que o vermelho do céu é mais escuro). Quando a levaram, depois de simplesmente arrombarem e entrarem por uma janela do museu, o objectivo foi um pedido de resgate - um milhão de euros. Na altura não se cedeu à chantagem e a obra foi recuperada três meses depois, quando a polícia deteve quatro homens.
Há quem agora espere que a situação se repita, incluindo fontes da polícia norueguesa citadas por agências de notícias internacionais. Entretanto, tal como em 1994, vozes críticas têm vindo a apontar a falta de investimento na segurança do património do país. A própria ministra da Cultura norueguesa, Valgerd Svarstad Haugland, já disse que havia "lições a retirar do caso". "Não protegemos suficientemente os nossos tesouros culturais", disse a ministra, prometendo ainda "medidas rápidas". Mas, como sublinha o jornal francês "Le Monde", "os noruegueses já ouviram esse discurso antes": além do roubo de 1994 à Galeria Nacional, em 1988 o mesmo Museu Munch foi alvo de um outro roubo em que foi levada outra obra de Munch, "O Vampiro", um óleo sobre tela do mesmo ano que "O Grito", 1893.