O fóssil Lucy vai ser exibido em público pela primeira vez

Até agora, Lucy - baptizada assim por causa da canção "Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, que estava na berra na altura em que foi descoberto o esqueleto, em 1974 - tem estado fechada num cofre na Etiópia. Mas este país africano espera encorajar o turismo dando a conhecer esta preciosidade.

O fóssil é composto por 40 por cento do esqueleto de uma fêmea de "Australopithecus afarensis", que morreu quando teria entre 25 e 30 anos. "É o esqueleto mais completo e mais bem preservado alguma vez encontrado de um antepassado humano que andava erecto", diz o livro "Lucy: the Beginnings of Humankind", de Donald Johanson, um dos cientistas que fez a descoberta.

O Museu de Houston deverá organizar uma exposição itinerante durante os quatro anos seguintes, levando o fóssil a outras cidades dos EUA. "É como receber o Santo Graal", comentou Dirk Van Tuerenhout, responsável pela colecção de antropologia do museu texano.

As autoridades etíopes querem oferecer uma imagem diferente do país, mais positiva que o estereótipo de fomes e guerra, disse Gezahgen Kebede, presidente do Conselho Etíope-Americano para o Comércio e o Investimento, com sede em Houston.

Mas Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, que se mudou da Etiópia para os EUA há uma década, não está de acordo. "Ninguém está feliz por ver Lucy a sair da Etiópia; pode ficar danificada." Outros museus já mostraram cópias do esqueleto e o de Houston podia fazer o mesmo, afirma. "Qual seria a diferença, se fosse uma reprodução boa? E porque é que está escondido num cofre, no país onde foi encontrado, e tem de sair do país para ser mostrado?"

Mas Van Tuerenhout responde que as pessoas querem ver o verdadeiro esqueleto, e não uma reprodução. Na Etiópia não está em exibição porque não existem condições para fazê-lo em segurança, sublinha. "Claro que gostaríamos que as pessoas da Etiópia o vissem primeiro, mas o governo e o museu não consideram essa possibilidade realista", disse.

No fim da exposição nos EUA, no entanto, todos os produtos associados - programas de computador, caixas para exibir o fóssil, placas de informação e iluminação - serão transportados para a Etiópia, para que a população possa finalmente ver Lucy, garantiu Van Tuerenhout.

Se o governo etíope quer partilhar Lucy, ninguém o pode impedir, mas não é um precedente do agrado de Bernard Wood, director do Centro de Estudos Avançados de Paleobiologia da Universidade George Washington. "Os paleoantropólogos e responsáveis por museus nos EUA deviam procurar outras formas de dotar os museus africanos de fundos", comentou. "Lucy é um antepassado de todos nós. Isto é o dinheiro a falar, e acho que não devia ser permitido que falasse tão alto."

Sugerir correcção
Comentar