Viagem de 600 metros sob o Danúbio bate recorde de teletransporte

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O teletransporte de pessoas é algo em que os cientistas ainda não acreditam DR

Carlos Fiolhais, físico da Universidade de Coimbra, explica que, para a realização da experiência, dois pacotes de luz foram emitidos em sentido contrário, por um cabo óptico de 800 metros, com partida de um mesmo centro. Cada fotão percorreu 300 metros à velocidade da luz, e assegurou-se que nenhum perdia energia durante essa distância.

Quando um dos fotões chegou ao seu destino, à outra margem do rio Danúbio, a equipa de investigadores da Universidade de Viena, sob a orientação do professor Anton Zeilinger, analisou esse pacote de luz. A energia que o fotão apresentasse revelava o seu estado quântico. Ou seja, a experiência entrou no campo da física quântica, em que a matéria se regula por probabilidades.

Ora, instantaneamente, sabe-se, sem realizar a mesma experiência com o fotão que percorreu a distância contrária, que esse pacote de luz mantém o estado correspondente. "É o que se chama pacotes de luz entrelaçados", esclarece Fiolhais. A experiência determina de um lado qual é o estado do outro, e vice-versa. "Albert Einstein não acreditava nesta possibilidade pela utilização da probabilidade, mas estava enganado."

Mas, se está a pensar em algo parecido com a série de ficção "Star Trek", no teletransporte de pessoas de um local para outro, desengane-se. Ainda não é desta que a célebre frase do capitão Kirk - "Beam me up, Scotty" - se torna realidade. "Nada do que façamos nos ajudará a construir o aparelho do Scotty", salienta Rupert Ursin, investigador do Instituto para Experiências Físicas da Universidade de Viena, citado pelo sítio "on-line" da "National Geographic". "A razão é muito simples: o corpo humano contém demasiada informação para ser separada e reconstruída."

Para um humano ser teletransportado, a tecnologia utilizada teria de analisar os triliões e triliões de átomos que constituem o corpo humano. Mas só recentemente os cientistas conseguiram dar os primeiros passos em direcção ao teletransporte num único átomo - matéria no estado mais simples.

Carlos Fiolhais considera mesmo "impossível" o teletransporte de matéria organizada, como o corpo humano. "Mas a ciência e a técnica são aquilo a que se pode chamar o ultrapassar da impossibilidade", refere, deixando uma porta aberta para a concretização deste fenómeno. Por exemplo, ninguém imaginava que o fenómeno da electricidade algum dia se tornaria um elemento fundamental da civilização.

O físico diz ainda que esta investigação "serve apenas para satisfazer a curiosidade da comunidade científica", mas poderá ajudar na aplicação prática da encriptação (por exemplo, para garantir a confidencialidade dos sistemas de gestão de cartões de crédito) e na computação quântica.

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