Parquímetros de Lisboa estão a saque

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A EMEL assume que os três tipos de equipamento adquiridos têm falhas graves Diana Quintela/PÚBLICO

No início desta semana, funcionários da EMEL apanharam dois homens de 38 anos em flagrante delito a assaltarem as máquinas de cobrança do estacionamento. Os homens, de nacionalidade portuguesa, foram apenas identificados na PSP.

A questão dos saques aos parquímetros não é de hoje. Em 2003, a EMEL anunciou, no seu Relatório de Gestão e Contas, que os custos directos com o vandalismo tinham atingido os 374 mil euros, não estando considerados nesse valor as quebras de receita e o furto, possivelmente muito maiores.

A EMEL imputava estes furtos a redes organizadas com origem no estrangeiro. No que diz respeito a "assaltos organizados", foram registadas, em 2003, 83 ocorrências que levaram à identificação ou detenção em flagrante delito, sendo que em cada furto ou acto de vandalismo estão implicadas, em média, duas a três pessoas, ou seja, pelo menos 160 pessoas estavam envolvidas. A PSP deteve, no ano passado, pelo menos dez indivíduos de nacionalidade romena que faziam parte de uma rede organizada.

O presidente da EMEL, António Monteiro, em declarações recentes, afirmou que a rede que se instalou em Lisboa já percorreu várias cidades europeias e é, inclusive, a mesma que destruiu o sistema de parquímetros de Paris e que levou esta cidade a eliminar o pagamento por dinheiro.

Parquímetros caros e frágeis

Ainda no relatório de 2003, a empresa fez um "mea culpa", assumindo que os três tipos de equipamento adquiridos têm falhas graves.


Os cerca de 620 parquímetros da marca "Gain" têm um baixo nível de operacionalidade, "em virtude da extrema vulnerabilidade" ao furto, através do arrombamento da porta e roubo do cofre, afirma o documento. No primeiro semestre de 2003, a EMEL comprou 125 novos cofres para reposição (cada um com um custo de 174 euros, ou seja, um total de 4350 euros), mas "não chegaram a durar uma semana".

Os 613 parquímetros "Lienzle" apresentam "custos de manutenção elevadíssimos face à vulnerabilidade ao vandalismo - fácil destruição, por qualquer elemento pontiagudo introduzido na ranhura das moedas, atingindo o selector de moedas e teclados". Cada selector de moedas novo tem um custo unitário de 250 euros e os teclados custam cada um 370. No Campo das Cebolas, por exemplo, a EMEL chegou a substituir 50 selectores num mês (ou seja, um gasto de 12.500 euros).

O último modelo de parquímetros instalados em Lisboa, na quantidade de 710, os "Sclumberger", "apresentam como maior fragilidade a sua vulnerabilidade ao roubo por furacão da chapa em pontos estratégicos". Segundo a empresa municipal, em zonas de grande rotação, como a Rua Ivone Silva, junto ao Hotel Zurich, o roubo chegou a ultrapassar os mil euros por máquina.

À perda de receitas por furto e aos custos elevadíssimos de manutenção de equipamentos vandalizados, junta-se a estratégia de desinvestimento nas zonas periféricas. O Bairro de Alvalade, Praça de Londres, Av. de Roma, Bairro de São Miguel, Campo de Ourique são apenas alguns exemplos onde a grande maioria dos parquímetros está fora de serviço há meses.

Pagamento alternativo

O completo fracasso do actual sistema vai levar a EMEL à mudança de toda a rede até ao final deste ano. O novo sistema será inspirado nova tecnologia desenvolvida pela "Via Verde Portugal" para o controle das cargas e descargas em Lisboa, cujo período experimental de seis meses começa em Setembro, apenas nas avenidas 5 de Outubro e Berna. O facto de a fiscalização do sistema ter sido confiada aos funcionários da EMEL indicia a sua transposição para o pagamento do estacionamento de carros particulares. Ainda não está definido se este novo meio de pagamento será complementar dos actuais parquímetros, ou exclusivo, por forma a acabar com o "maná" dos assaltantes.


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