Pó ameaça seriamente o ambiente e a saúde humana
"O pó é um dos componentes menos conhecidos da atmosfera da Terra e um dos que podem ter uma influência muito maior do que pensávamos nas alterações climáticas", afirmou Andrew Goudie durante uma intervenção no Congresso Geográfico Internacional, a decorrer em Glasgow (Escócia).
O perito acrescentou que os seus primeiros efeitos na saúde humana, nas alterações climáticas e nos recifes de coral já se notam, pelo que, em sua opinião, as autoridades científicas e sanitárias de todo o mundo devem começar a actuar. "A natureza transfronteiriça do pó converte-o num assunto realmente global, mas até agora não tem recebido a atenção que merece", criticou.
Graças à tecnologia de satélite, já foi possível localizar a principal fonte de pó do mundo — na depressão de Bodele, no Chade — e saber que em parte do Norte de África a produção anual de pó decuplicou no último meio século.
Essa tecnologia também permitiu constatar as grandes distâncias percorridas pelas partículas de pó, que podem viajar do deserto do Sara até à Gronelândia ou da China até à Europa Ocidental. Quando as partículas voltam a pousar na superfície, referiu Goudie, salinizam os solos, transmitem doenças, afectam os períodos reprodutivos do mar, contaminam o ar e alteram a luminosidade dos calotes polares.
As secas, o aumento dos pastos, a desflorestação ou o mero uso individual de um veículo todo-o-terreno são algumas das causas citadas pelos cientistas como factores que alteram os depósitos de pó de que saem as partículas contaminantes.
Uma equipa da Universidade de Londres deverá deslocar-se em Março do próximo ano ao Chade para realizar, na depressão de Bodele, o primeiro trabalho de campo sobre a importância dessa região na evolução global das alterações climáticas.