Expedição vai perfurar o Árctico

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O objectivo é fazer um estudo geológico da história do Pólo Norte DR

Uma equipa internacional de 19 cientistas partiu da Noruega a 8 de Agosto, numa expedição de seis semanas, com destino a Lomonosov - uma cadeia de montanhas a 1000 metros de profundidade, que se estende num raio de 1500 quilómetros, da Gronelândia à Sibéria. Para lá chegar, a expedição Acex (Arctic Coring Expedition), composta por três quebras-gelo - um dos quais munido de um perfurador, o sueco "Vidar Viking" -, dois helicópteros e um barco de apoio, vai ter de ultrapassar o quase impossível: placas de gelo gigantescas, temperaturas muito baixas e um nevoeiro cerrado.

O objectivo é fazer um estudo geológico da história do Pólo Norte. Ao recolher amostras dos sedimentos oceânicos a uma profundidade de 500 metros, pela técnica da perfuração, e examinando-as depois em laboratório, na Universidade de Bremen, Alemanha, os cientistas esperam reconstruir a evolução do clima e das condições ambientais no Árctico ao longo de 50 milhões de anos.

"O próprio clima provoca a fragmentação dos elementos à superfície, e essas partículas vão sendo depositadas no fundo do mar, ao longo dos anos", explica Hipólito Monteiro, do departamento de Geologia Marinha do INETI (Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação), que coordena a participação portuguesa.

A descoberta de fósseis de crocodilo no Árctico ajudou a comprovar que outrora foi uma região quente e sem gelo. Os cientistas esperam agora que estes sedimentos venham a desvendar a altura em que se deu esta alteração climática e explicá-la.

"O Árctico é um oceano estratégico por excelência: desempenha um papel fundamental no sistema climático global. Dele vêm todas as correntes de água para os outros oceanos, ou seja, os espirros do Árctico sentem-se aqui", revela Hipólito Monteiro. "É imperativo estudá-lo", pelas repercussões que poderá ter no futuro.

O gelo e a neve da Gronelândia reflectem parte da energia solar de volta para o espaço, o que influencia a distribuição da temperatura e a redução de calor absorvido pela Terra. Por outro lado, a circulação, em larga escala, das correntes oceânicas redistribui também calor pelo planeta. No entanto, com o aquecimento global, e a redução acentuada do gelo do Árctico - nos últimos 30 anos, os cientistas documentaram um recuo de cinco por cento -, esta corrente de calor pode começar a falhar, arrefecendo o clima.

A expedição Acex tem um orçamento de nove milhões de euros, financiados por organizações governamentais de ciência de 13 países europeus, incluindo Portugal, que formaram o Ecord. Este consórcio faz parte do IODP (Integrated Ocean Drilling Program), um programa internacional para a investigação da dinâmica da Terra, composto por 16 países.

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