Forças georgianas abandonam colinas estratégicas na Ossétia do Sul
"Retirámo-nos das posições que havíamos tomado hoje e elas são agora patrulhadas pelas forças de manutenção de paz", informou a televisão georgiana, mostrando imagens da retirada, enquanto a televisão russa difundia a chegada dos soldados russos, comandados pelo general Sviatoslav Nabzdorov. O início da retirada georgiana foi também confirmada por uma fonte separatista.
Já antes o Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, tinha declarado estar "disposto a ceder" o controlo daqueles locais às forças de paz russas e retirar todas as suas tropas à excepção de 500 homens, tal como prevê o acordo de cessar-fogo. Ao mesmo tempo, sublinhou que os contrafortes daquela região têm "grande importância estratégica", podendo permitir a rápida tomada de controlo de todo o território da Ossétia do Sul.
Combates cada vez mais violentos opõem as forças georgianas e da Ossétia, tendo causado, numa semana, pelo menos 24 mortos e 50 feridos do lado georgiano. As forças georgianas anunciaram hoje terem morto oito combatentes separatistas, provavelmente russos, informação rapidamente desmentida pelos separatistas. "Não há cossacos nas unidades das forças armadas da Ossétia", garantiu Irina Gagloieva, porta-voz dos separatistas. Segundo as estatísticas russas, cerca de 650 mil cossacos vivem no Sul da Rússia.
A confirmar-se a presença de cossacos entre as forças separatistas, a situação entre a Geórgia e a Rússia poderá agravar-se. No plano diplomático, a Geórgia exigiu à Rússia que ponha fim às "actividades ilegais" dos cossacos na Ossétia do Sul. Por seu lado, Moscovo considerou "inaceitável" o comportamento de Tbilissi ao tomar o controlo das colinas na Ossétia do Sul, alertando para a "desestabilização de toda a região".
Moscovo acusou a Geórgia de ter lançado operações militares "mais vastas e sangrentas do que anteriormente", violando assim os acordos feitos, que prevêem a instalação de novos pontos de controlo das forças russas, georgianas e da Ossétia, para impedir a troca de tiros, e de insistir na realização de uma conferência internacional para resolver o conflito. "É claro para todos que o problema não é a falta de mecanismos de negociações — há suficientes, mas sim a recusa de certos representantes da parte georgiana em aplicarem os acordos anteriores e a tentativa de imporem a qualquer preço, sem ter em conta as vítimas, uma abordagem unilateral, baseada na força, da resolução do problema da Ossétia", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em comunicado.
Moscovo defendeu ainda que é necessário tomar "medidas severas contra aqueles que tomaram a iniciativa de violar os acordos existentes".
O já tenso clima entre Tbilissi e Moscovo deteriorou-se depois das propostas feitas pelo Presidente russo, Vladimir Putin, que, afastando qualquer visita a Tbilissi nas circunstâncias actuais, considerou que o actual conflito se deve a uma "decisão estúpida" da Geórgia, quando, na altura da queda da URSS, acabou com o estatuto de autonomia da Ossétia do Sul, território que integra a Geórgia mas clama independência desde 1992.
O presidente do Parlamento georgiano, Nino Burdjanadze, reagiu às declarações de Putin, afirmando que uma visita do chefe de Estado russo não tem sentido quando "as forças de paz russas não conseguem cumprir o seu mandato e permitem às forças separatistas lançarem operações militares".
A presença de tropas russas na Ossétia do Sul, na região do Cáucaso, foi instituída em 1992, na sequência de um acordo entre o então Presidente georgiano Eduard Chevardnadze e o seu homólogo russo Boris Ieltsin. O entendimento pôs fim a um sangrento conflito na república — que opôs rebeldes separatistas, apoiados por Moscovo, às forças georgianas — e abriu caminho a uma independência "de facto" da Ossétia do Sul. Desde então, esta frágil paz é assegurada por um contingente composto por militares russos, georgianos e ossétios.
Ao chegar ao poder, em Novembro do ano passado, Saakachvili prometeu submeter as repúblicas separatistas da Adjária e Ossétia do Sul à autoridade de Tbilissi — um objectivo já conseguido na primeira região, onde contou com o apoio maciço da população. No entanto, Saakachvili exige a partida das tropas russas que, segundo afirma, estão na Ossétia apenas para alimentar os interesses separatistas da região. De facto, a república voltou recentemente a solicitar a integração na federação russa, à qual pertence a Ossétia do Norte.