Agência Europeia avisa que aquecimento global vai afectar mais a Europa
Neste século, o aumento da temperatura no mundo deverá oscilar entre 1,4 e 5,8 graus, mas na Europa esse aquecimento poderá ir dos dois aos 6,3 graus, revela o documento.
"A Europa aquece mais rapidamente do que a média mundial. A temperatura na Europa aumentou uma média de 0,95 graus nos últimos cem anos e para este século prevê-se um incremento adicional entre dois a 6,3 graus e um contínuo aumento das emissões de gases com efeito de estufa", lê-se no relatório.
A agência assinala que o aquecimento global durante o século XX foi mais acentuado na Europa do que no resto do mundo. Enquanto o continente europeu registou um aumento médio de 0,95 graus, os restantes continentes tiveram um acréscimo médio de temperatura de 0,7 graus. À semelhança do que tem sido apontado ao longo dos anos, este relatório alerta ainda para o facto de que o aquecimento global será mais acentuado nos países do sul da Europa, como em Portugal, Espanha ou Itália.
A precipitação (quantidade de água da chuva depositada no solo) deverá continuar a aumentar nos países do Norte da Europa e a diminuir no Sul.
O relatório da Agência Europeia analisou oito grandes áreas afectadas pelas alterações climáticas e pelo aquecimento global: atmosfera e clima, glaciares e gelo, sistemas marítimos, biodiversidade, água, agricultura, economia e saúde humana.
"Tempestades, inundações, secas e outras condições meteorológicas extremas cada vez mais frequentes e economicamente gravosas. Ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas, que são perigosas para a saúde de idosos e pessoas mais vulneráveis. Degelo dos glaciares e subida do nível da água do mar. Estes são alguns dos fenómenos das alterações climáticas que já se observam na Europa e que se anunciam para as próximas décadas", refere o relatório.
Em relação ao nível da água do mar na Europa, o documento sublinha que durante os próximos cem anos o ritmo de subida das águas deverá ser entre duas a quatro vezes superior ao que aconteceu no século passado.
As projecções indicam ainda que até 2080 os invernos frios podem "desaparecer quase por completo" e que os verões quentes, as secas e as fortes chuvas podem ser "muito mais frequentes".
Como exemplo da "capacidade destrutiva" dos fenómenos meteorológicos extremos, os autores do relatório apresentam a onda de calor do Verão de 2003 na Europa, que terá provocado mais 20 mil mortes do que as registadas em média nos verões normais.
No entanto, o documento aponta que "as alterações climáticas parecem poder ter alguns efeitos positivos". Diz o documento que a agricultura na maior parte da Europa pode beneficiar com um aumento moderado das temperaturas e que a taxa de sobrevivência das espécies de aves que hibernam pode aumentar, acompanhando a subida das temperaturas no Inverno.
Um relatório de especialistas portugueses apresentado em Julho estimou que, em Portugal, um em cada cinco dias poderá ter temperaturas acima dos 35 graus nos próximos 50 anos. As conclusões da segunda fase do chamado projecto SIAM, que estuda as alterações climáticas em Portugal, revelaram ainda que "a média e longo prazo" as ondas de calor, tal como a verificada no Verão passado, vão tornar-se mais frequentes.
O projecto estima que Portugal venha a ter entre 60 a 70 dias por ano com temperaturas acima dos 35 graus, quando actualmente isso acontece, em média, entre 10 a 15 dias anualmente.