Afeganistão: adversários de Karzai nas presidenciais ameaçam boicotar eleições

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Karzai é o candidato favorito à Presidência afegã, mas não deverá ganhar na primeira volta Emilio Morenatti/AP

"Karzai está a usar os serviços públicos para a sua campanha eleitoral. Os candidatos presidenciais exigem unanimemente a sua demissão", declarou Abdul Satar Sirat, um dos candidatos. Hamid Karzai "deve demitir-se dentro de uma semana"; se tal não acontecer, os 17 candidatos às presidenciais "vão boicotar a eleição", garantiu, denunciando ainda a alegada falta de independência da comissão eleitoral que vai organizar o escrutínio.

A constituição desta frente — a primeira manifestação conjunta contra Karzai — saiu de uma reunião em que os 17 candidatos estiveram presentes ou representados. À mesma hora, o Presidente Karzai elogiava a "estabilidade" e "segurança" do país perante milhares de pessoas no estádio de Cabul.

Os opositores de Karzai discutiram recentemente a possibilidade de formarem alianças entre si contra o Presidente afegão, apoiado pelos EUA. "Se considerarmos que é do nosso interesse nacional, fá-las-emos", assegurou Abdul Satar Sirat, confirmando que essa hipótese continua a ser analisada.

Segundo observadores no terreno, o antigo ministro da Educação Yunus Qanuni, apoiado pela Aliança do Norte (que derrubou os taliban, com a ajuda de Washington, no Outono de 2001), e Abdul Satar Sirat, governante durante a ocupação soviética e que viveu muito tempo no exílio, são dois possíveis candidatos a liderarem uma aliança unida contra Karzai. No entanto, vários analistas consideram difícil a concretização desta frente comum devido às barreiras étnicas. Estas divergências costumam resultar numa dispersão de votos, o que deverá impedir que Karzai, claramente o favorito a ocupar o lugar em que foi confirmado há dois anos por uma grande assembleia (Loya Jirga) de líderes tribais afegãos, seja eleito logo na primeira volta.

Hamid Karzai, 46 anos, conquistou popularidade e respeito no Ocidente, mas para muitos afegãos, incluindo os do grupo étnico maioritário pashtun, a que pertence, é visto como uma personalidade fraca e dependente do apoio estrangeiro, designadamente norte-americano.

O Afeganistão vai eleger um Presidente a 9 de Outubro, mas as eleições legislativas foram adiadas para Abril do próximo ano. O Governo do Presidente Hamid Karzai esperava poder realizar ambas as votações em Setembro, mas problemas financeiros, logísticos e de segurança determinaram o adiamento. As Nações Unidas comunicaram em Julho que o Afeganistão não dispõe dos fundos necessários para organizar correctamente as eleições gerais inicialmente marcadas para Setembro. Segundo as contas da ONU faltam 60 dos 78 milhões de dólares necessários para realizar o escrutínio presidencial e legislativo. O custo total da votação está estimado em 101 milhões de dólares.

Num total de dez milhões de potenciais eleitores, 5,5 milhões de afegãos estavam inscritos nas listas eleitorais no mês passado, a um ritmo de cerca de 100 mil por dia. A percentagem de mulheres que já se recensearam situava-se, na mesma data, nos 38 por cento.

O escrutínio vai ser supervisionado em conjunto pelas autoridades afegãs e por funcionários das Nações Unidas. A dois meses de distância, a principal preocupação é garantir a segurança e evitar episódios de violência. Os taliban (antiga milícia fundamentalista no poder) e outros grupos aliados já ameaçaram que vão fazer tudo para impedir as primeiras eleições livres afegãs.

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