Atenas 2004: Kenteris diz-se "vítima de uma grande injustiça"

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Kenteris poderá ser expulso dos Jogos Olímpicos Orestis Panagiotou/EPA

“Os que me crucificam actualmente são os mesmos que se faziam fotografar às minhas custas após as vitórias. Tenho de os lembrar que depois da crucificação vem a ressurreição”, afirmou Kenteris à imprensa, vincando que é “vítima de uma grande injustiça”. “Quero agradecer aos milhares de fãs que sempre gostaram de mim, ainda gostam e que mostraram isso através de cartas, telefonemas, ‘e-mails’ e flores”.

Thanou, companheira de treino do campeão olímpico, disse sentir “amargura e desilusão”: “Vou continuar a lutar pelo meu país e por aqueles que se sentem verdadeiramente gregos e esperar pela decisão do Comité Olímpico Internacional [COI]”.

Kenteris e Thanou serão amanhã ouvidos pelo painel antidopagem do COI, que pretende esclarecer porque os dois “sprinters” gregos não se encontravam na Aldeia Olímpica quando um oficial os tentou encontrar para realizar testes. Facto pelo qual, se forem considerados culpados, poderão pagar com uma suspensão entre três meses e dois anos – os atletas são obrigados a notificar as autoridades sobre os locais onde se encontram, e a seguirem esses planos, para poderem ser alvo de testes surpresa, mas os gregos são reincidentes no desrespeito desta regra (ver links).

O organismo olímpico irá questioná-los também sobre o alegado acidente de moto que sofreram horas depois e que os levou ao hospital responsável pelos boletins clínicos que forçaram o COI a adiar por duas vezes as audiências. Este mesmo acidente, de controlos estranhos – a polícia não foi chamada, não houve mais veículos envolvidos e não há registo de testemunhas –, está também a ser investigado pela justiça grega (ver links).

Os dois atletas, que estão provisoriamente suspensos da equipa olímpica grega, poderão tentar culpar o chefe da equipa de atletismo, Ioannis Stamatopoulos, que foi notificado pelo agente do COI e só conseguiu avisar os atletas cinco horas depois. Christos Tzekos, treinador dos velocistas que também está suspenso, já indiciou isso mesmo à imprensa grega.

A polémica envolveu também Manolis Kolibadis, chefe adjunto da missão olímpica helénica, que no fim-de-semana disse a um canal televisivo que avisou Kenteris e Thanou, quando chegaram pela primeira vez à Aldeia Olímpica, que poderiam ser alvo de um controlo “antidoping” e que ambos “tremeram de medo”. “Eles pareciam pombos com receio de corujas. Tinham os bonés enterrados nas cabeças, encontraram inúmeros voluntários que pediam autógrafos, mas foram directamente para os seus quartos”, contou

Kolibadis, que perguntou a Thanou porque tremia tanto e esta respondeu-lhe com outra questão: “Porque é que eles [oficiais antidopagem] nos estão a caçar? Querem acabar connosco?” Duas horas mais tarde, o membro do COI chegou, mas os “sprinters”, sob os quais já recaíam muitas suspeitas, tinham deixado o local.

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