O que determina o código mundial “antidoping” Artigo 2 – Violações das normas antidopagem (...) São consideradas como violações das normas antidopagem: 2.1 A presença de uma substância proibida, dos seus metabolitos ou marcadores, numa amostra recolhida a partir de um praticante desportivo. 2.2 Utilização ou tentativa de utilização de uma substância proibida ou de um método proibido. 2.3 A recusa ou uma falta sem justificação válida a uma recolha de amostras após notificação, em conformidade com as regras antidopagem vigentes, ou ainda qualquer comportamento que se traduza numa fuga à recolha de amostras. 2.4 A violação das exigências de disponibilidade dos praticantes desportivos relativamente à realização de controlos fora de competição, incluindo o desrespeito, por parte dos praticantes desportivos, da obrigação de fornecerem informações sobre a sua localização bem como controlos declarados como não realizados com base em regras adequadas. Artigo 10 – Sanções aplicáveis aos praticantes individuais (...)10.2 Aplicação de sanções disciplinares por uso de substâncias ou métodos proibidos Com excepção do aplicável às substâncias específicas identificadas no Artigo 10.3, o período de suspensão da actividade desportiva aplicável por uma violação dos Artigos 2.1 (presença de uma substância proibida, seus metabolitos ou marcadores), 2.2 (uso ou tentativa de uso de uma substância proibida ou de um método proibido) e 2.6 (posse de substâncias e métodos proibidos) será de: Primeira infracção: Dois (2) anos de suspensão. Segunda infracção: Suspensão vitalícia (“irradiação”). (...)10.4 Suspensão por outras violações às normas antidopagem O período de suspensão aplicável por outras infracções às normas antidopagem será de: 10.4.1 Por infracções ao Artigo 2.3 (omissão ou recusa de se submeter a uma recolha de amostras) ou ao Artigo 2.5 (falsificação de um controlo de dopagem), serão aplicáveis os períodos de suspensão previstos no Artigo 10.2. 10.4.3 Para infracções ao Artigo 2.4 (violação das regras sobre localização dos praticantes desportivos ou falta a um controlo), o período de suspensão será, no mínimo de 3 meses e no máximo de 2 anos, de acordo com as normas estabelecidas pela organização antidopagem a cujo teste o praticante desportivo faltou ou em que foi violada a regra sobre indicação da localização. O período de suspensão para violações subsequentes do Artigo 2.4 será definido nos regulamentos da organização antidopagem a cujo teste o praticante desportivo faltou ou cujas exigências em matéria de localização não foram respeitadas. |
Kenteris e Thanou afastados provisoriamente da equipa olímpica grega
“As discussões estiveram extremamente quentes. Na minha opinião, eles deveriam ter sido expulsos da equipa imediatamente”, afirmou Lambis Nikolaou, presidente do COH, revelando que, ao fim de quatro horas, houve uma maioria de cinco votos contra um a favor da exclusão temporária de Kenteris e Thanou, assim como do técnico Christos Tzekos.
Na quinta-feira, um oficial da comissão antidopagem deslocou-se à Aldeia Olímpica para realizar controlos surpresa a quase meia centena de atletas, inclusive aos dois gregos. Como já acontecera várias vezes no passado, ambos estavam num local diferente ao que antes tinham indicado às autoridades desportivas, como estipula o Artigo 2.4 do código mundial “antidoping” (ver caixa). Pouco tempo depois de a comunicação social helénica ter noticiado a ausência dos velocistas, o Ministério da Informação grego revelou que Kenteris e Thanou tinham sofrido um acidente de moto, quando regressavam da casa de Tzekos, e que se encontravam hospitalizados.
O COI abriu de imediato um inquérito e enviou o seu director médico e científico ao hospital onde foram internados os gregos. Patrick Schamasch notificou-os para ser ouvidos sobre o caso, mas não conseguiu verificar a veracidade do relatório clínico. No dia seguinte, nenhum dos atletas compareceu nas audiências, que o COI foi forçado a adiar quando lhe foram apresentados certificados médicos.
Por este facto, a decisão do Comité Olímpico Helénico tem apenas efeitos formais, não reais: Kenteris e Thanou estariam de qualquer forma fora da comitiva grega até segunda-feira, por se encontrarem hospitalizados, e o organismo grego não divulgou o que fará se o COI suspender os atletas, mas estes recorrerem para o Tribunal Arbitral do Desporto, que tem uma missão especial em Atenas.
Praticamente fora de hipótese parece estar a realização de novos testes aos “sprinters” gregos. Jacques Rogge, presidente do COI, admitiu ontem que, quando um controlo é adiado por várias horas, surgem hipóteses para que os atletas limpem o organismo de qualquer produto proibido. “É possível usar cateteres para esvaziar a bexiga e eliminar os vestígios de substância dopantes. Isto já aconteceu. Para além disso, é possível alterar os parâmetros do sangue injectando certos produtos”, afirmou o belga, explicando que “o princípio dos testes durante e extra competição determina que não se deixe que os atletas sozinhos”.
Confiança da defesaO advogado de Kenteris e Thanou, Michalis Dimitrakopoulos, e o próprio Tzekos têm tentado passar uma imagem de tranquilidade e confiança. “Os nossos campeões estão limpos, nunca usaram substâncias dopantes”, assegurou Dimitrakopoulos, pouco depois de ter sido ouvido pelo COH. “Nós sempre nos comportámos dentro dos regulamentos e da legalidade absoluta. Não temos nada a temer e agradecemos às pessoas que nos têm apoiado”, vincou Tzekos, citado pela Reuters.
No entanto, os dois companheiros de treino e, até ontem, figuras muito respeitadas pelos gregos (Kenteris foi eleito recentemente o homem mais popular na Grécia), têm de enfrentar um incêndio com várias frentes. O facto de não se encontrarem na Aldeia Olímpica quando um oficial antidopagem os procurou é considerado uma violação dos regulamentos e pode ser punida com uma suspensão “no mínimo de três meses e no máximo de dois anos”. Desta vez o caso está nas mãos do COI, que quer impor uma política de “tolerância zero” ao “doping”, e os dois velocistas, reincidentes neste tipo de comportamento, deverão ser punidos severamente. Tanto mais que o próprio Rogge já disse que “os Jogos são muito mais fortes que indivíduos” e que “o facto de Kenteris e Thanou serem gregos não terá qualquer impacto” no inquérito.
A nível civil, foi também iniciada uma investigação ao misterioso acidente que os “sprinters” sofreram, adiantou à AFP uma fonte policial. O objectivo é confirmar as informações de que os dois atletas deram entrada no hospital às 0h45 locais e perceber porque a polícia não foi chamada ao local do incidente.