"Washington Post" faz 'mea culpa' sobre Iraque

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O "Post" reconheceu ter dado demasiada importância às afirmações da Casa Branca sobre a presumível existência de armas de destruição maciça DR

Num artigo de mais de 3000 palavras, que começa na primeira página do jornal, o "Post" reconheceu ter dado demasiada importância às afirmações da Casa Branca sobre a presumível existência de armas de destruição maciça. A existência dessas armas, nunca descobertas, foi o principal argumento para a intervenção militar.

O director, Leonard Downie Jr., reconheceu que "a redacção se concentrou demasiado em saber o que a administração Bush estava a preparar e não deu a mesma atenção aos que diziam que não seria boa ideia partir para a guerra e questionavam as razões dadas pelo Governo". "Não houve artigos suficientes sobre esse tema na primeira página. O que foi um erro da minha parte", acrescentou.

Thomas Ricks, correspondente do diário junto do Pentágono, citado pela AFP, criticou também a cobertura feita pelo jornal. "As afirmações da Administração apareciam na primeira página. O que punha em causa essas afirmações era relegado para a página 18 ao domingo ou para a 24 à segunda-feira", declarou. "Havia entre os responsáveis da redacção uma atitude [do tipo]: Vamos para a guerra, porque é que nos devemos importar com essas posições em sentido contrário?"

Também Bob Woodward, um dos jornalistas do "Washington Post" cujo nome foi consagrado pela investigação do caso Watergate (que há 30 anos levou à demissão do então Presidente, Richard Nixon) critica o trabalho do jornal no período em causa. "Fizémos o nosso trabalho, mas não fizemos o suficiente", disse. "Devíamos ter advertido os nossos leitores de que tínhamos informações que provavam que os fundamentos [para a guerra] eram mais frágeis" do que o geralmente admitido, acrescentou.

Após o início da guerra, os "media" americanos foram, na sua generalidade, criticados pela sua falta de objectividade na cobertura do conflito. Há dois meses e meio o também influente "New York Times" fez também um "mea culpa", assumindo falhas colectivas na cobertura do "dossier" iraquiano e reconhecendo ter dado demasiado crédito aos argumentos dos partidários da intervenção militar.

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