"Reality-show" nos EUA promete legalização a imigrantes
O programa, denominado "Gana la verde" (em português, "ganha o verde", da cor da autorização que permite residir e trabalhar no país), oferece aos imigrantes ilegais a cobertura de todos os gastos necessários para obterem a sua legalização nos EUA. Um objectivo que não é garantido.
Limpar as janelas de um edifício com mais de 20 andares, ou comer escorpiões vivos, foram apenas algumas das provas que os concorrentes já tiveram de ultrapassar no concurso, cujo formato se assemelha ao do "reality show" Fear Factor, transmitido pela TVI.
Desde a sua estreia, no passado dia 1 de Julho, já passaram pelo programa centenas de concorrentes, e as audiências têm vindo a aumentar, sendo visto em cerca de um milhão de casas de imigrantes latinos, segundo noticiou esta semana o jornal "Los Angeles Times".
O programa está a causar polémica nos Estados Unidos, não só pelo tipo de provas a que são sujeitos os concorrentes, mas também devido ao facto de a legalização dos imigrantes não ser absolutamente garantida. "Submetem as pessoas a coisas desagradáveis, dando-lhes esperança de alterar o seu estatuto legal no país, quando a verdade é que algumas não o conseguirão, porque tudo depende das leis. Isto parece mais exploração", afirmou uma porta-voz dos serviços de fronteiras e imigração, Virginia Kice.
A directora, Angela Zambrano, citada pela agência noticiosa mexicana Notimex, acrescentou que "o perigoso é que estão a brincar com a necessidade das pessoas e fazem-nas crer que há formas mágicas de obter a residência, quando na realidade a fórmula mágica não existe". Responsáveis do serviço de fronteiras alertam ainda para o facto de os cidadãos ilegais que se expõem na televisão estarem sujeitos a serem identificados pelas autoridades. Muitos deles não são sequer informados de que é mais fácil obter o "green card" através do estabelecimento de laços familiares com norte-americanos, ou de um contrato de emprego. Os imigrantes que já tenham enganado as autoridades, afirmando ser norte-americanos, nunca poderão obter a legalização.
A ideia para este prémio inovador partiu de Lenard Liberman, vice-presidente da produtora de rádio e televisão Liberman Broadcasting. "Quando se está no mercado hispânico, percebe-se que a imigração e a legalização são o principal assunto. Os imigrantes querem poder ganhar a vida e não estar sob a pressão de não saber se vão poder cá ficar ou não", afirmou à Reuters.
"Podíamos fazer um programa em que oferecêssemos ao vencedor um prémio em dinheiro, ou um forno. Mas eu pensei que o melhor prémio para um imigrante a viver nos Estados Unidos seria ter uma prestigiada firma de advogados a tratar do seu caso. Isso não tem preço", acrescentou o vice-presidente da produtora. A aposta está a ser ganha, já que, segundo conta, recebe diariamente centenas de telefonemas e cartas de pessoas que querem participar. "Já tivemos pessoas que vieram de avião de Chicago para participar no programa".
Estima-se que dois mihões de imigrantes vivam e trabalhem na Califórnia, na sua maioria latinos, e que muitos mais estejam a tentar prolongar os seus vistos para permanecer no país legalmente.
"Não podemos realmente culpar os produtores do programa", disse à Reuters Alex Nogales, presidente da coligação nacional de "media" hispânicos, que luta pela representação hispânica nos meios de comunicação norte-americanos. "Mas é triste que as pessoas tenham de ser tão humilhadas para conseguir algo de que necessitam para o seu futuro e o dos seus filhos".