Iraque: intensificam-se combates pelo controlo do cemitério de Najaf
Segundo o relato de um correspondente da AFP que se encontra no interior da cidade, os homens leais a Sadr dominam ainda o grande cemitério de Najaf, com cerca de 15 quilómetros quadrados, situado a curta distância do mausoléu do imã Ali (genro do Profeta), um dos locais mais sagrados para os xiitas, igualmente nas mãos dos milicianos.
Depois de um domingo relativamente calmo, sucederam-se durante o dia de hoje rajadas de armas automáticas, explosões e disparos de canhão dos blindados norte-americanos enviados para a zona. Os militares contam com o apoio de vários helicópteros, responsáveis pelo bombardeamento de alguns redutos no interior da necrópole, uma das maiores do mundo.
Por toda a cidade são audíveis as palavras de incentivo aos milicianos, proferidas a partir dos minaretes do mausoléu: "Estais a combater pela fé e se cairdes na batalha como mártires ireis para o paraíso onde o imã Ali vos acolherá".
No interior do mausoléu, transformado em quartel-general dos milicianos, foi instalado um hospital de campanha, ao qual chegam a cada hora novos feridos.
Mais de dois mil marines e um número idêntico de polícias iraquianos combatem, há cinco dias, um número não quantificado de milicianos nas imediações do centro da cidade, onde se acredita estar entrincheirado o líder radical.
Segundo um balanço divulgado hoje pelo Exército norte-americano, 360 milicianos xiitas terão sido mortos nos combates, que provocaram ainda quatro baixas entre os militares dos EUA. Outros 19 soldados ficaram feridos nos combates, nos quais terão perecido também quatro polícias iraquianos.
No sábado passado, o balanço apontava para 300 milicianos mortos, mas este balanço foi contestado pelos colaboradores de Sadr, que admitiam apenas a existência de 15 mortos e 35 feridos. A inexistência de balanços hospitalares impede a confirmação de qualquer um destes balanços, mas os jornalistas presentes na cidade dão conta de dezenas de mortos e feridos que diariamente chegam aos hospitais da cidade.
Já esta tarde, o chefe da polícia local, o general Ghaleb Al-Jazari, mostrou aos jornalistas cerca de 280 prisioneiros que apresentou como sendo milicianos xiitas capturados nos últimos dias. Os detidos, na sua maioria jovens, foram reunidos numa ala da esquadra da polícia local, depois de, segundo o responsável, terem sido capturados nos postos de controlo que rodeiam a cidade, quando se tentavam reunir aos homens de Sadr.
O general garante que os detidos são oriundos de Amara, Bassorá e Nassíria, cidades do Sul do Iraque, de maioria xiita, também elas palcos nos últimos dias de confrontos entre milicianos e elementos da força multinacional.
Esta manhã, o líder radical xiita garantiu que os seus homens vão defender a cidade de Najaf "até à última gota de sangue", em resposta ao ultimato feito ontem pelo primeiro-ministro iraquiano. Numa visita relâmpago à cidade, Iyad Allawi ordenou aos combatentes que deponham as armas e abandonem os locais santos.
Moqtada al-Sadr é um clérigo radical xiita que se opõe à presença americana no Iraque. O primeiro-ministro iraquiano convidou-o no sábado a participar nas eleições legislativas de Janeiro de 2005, garantindo que não foi emitida qualquer ordem de prisão em seu nome.
Esta proposta faz parte da nova estratégia das autoridades iraquianas para tentar enquadrar Sadr na política iraquiana e levar à renúncia da oposição armada. O líder radical, descendente de uma influente linhagem de Ayatollah, é muito popular entre a população mais pobre do país, apesar de não ser reconhecido pela hierarquia religiosa xiita.