Miguel Portas diz que Portugal tem "Governo de interesses"
"Este Governo tem dado os primeiros passos, passos trapalhões. É de recear que seja um Governo cada vez mais interessista, ou seja, onde os interesses económicos passam a ter directamente ministros", disse ontem à noite num jantar com apoiantes em Vouzela.
Miguel Portas aludiu ao documentário "Fahrenheit 9/11", que demonstra "como os interesses das grandes empresas do petróleo e da defesa têm directamente na Casa Branca os seus homens, os seus administradores, como se a Casa Branca fosse um conselho de administração das indústrias de energia e de armamento".
"Em Portugal, este Governo de Santana Lopes começa-se a assemelhar muito, à nossa escala, a um pequeno conselho de administração de interesses organizados, ou em privatizações ou em negócios preferenciais", frisou. Segundo o bloquista, "este é mais claramente um Governo de interesses do que o anterior".
Na sua opinião, esta foi a primeira consequência da decisão do Presidente da República, Jorge Sampaio, de "abrir caminho a um Governo carente de legitimidade", ao invés de "devolver a palavra ao povo".
A segunda consequência foi - acrescentou - "a de abrir uma crise no PS exactamente no momento em que seria preciso que fosse forte, na oposição às políticas de direita que hoje carecem claramente de legitimidade popular". Para Miguel Portas, o debate gerado no âmbito da procura de um novo secretário-geral tem sido "quase que uma discussão sobre como é que pode regressar, embora através de outra pessoa, numa espécie de D. Sebastião, António Guterres recauchutado".
"Todas as declarações que José Sócrates tem feito são declarações que lembram o pior do guterrismo, que é conseguir dizer sobre cada assunto isto e o seu contrário", lamentou.
Para Miguel Portas, a decisão de Jorge Sampaio, "um homem eleito pela grande maioria do povo de esquerda", comprova que "na próxima disputa presidencial é indispensável um candidato forte à esquerda do (candidato apoiado pelo) PS".