Governo do Sudão e grupos rebeldes começam conversações de paz no dia 23

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No Darfur e nos campos de refugiados do Chade a fome e a doença reclamam vidas diariamente Kim Piper/EPA

A União Africana indicou esta manhã que o Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo será o mediador nas conversações entre o governo de Cartum e o Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Libertação do Sudão, dois grupos que combatem as tropas estatais no Darfur há 19 meses.

Estes combates, juntamente com os raides das milícias árabes Janjaweed contribuíram directamente para o desenraizamento de mais de um milhão de africanos e e para a crise humanitária que é classificada pela ONU como a pior no mundo.

Agora, "os rebeldes e o governo do Sudão concordaram em comparecer nas conversações", disse o porta-voz da União Africana em Addis Abeba, sede da organização, indicando que as negociações serão "uma continuação do diálogo político" encetado em 15 de Julho. As primeiras conversas falharam na sequência de seis exigências feitas pelos rebeldes que foram imediatamente rejeitadas por Cartum. Entre as exigências figuravam a desmilitarização do Darfur e o acesso às investigações sobre as acusações de genocídio.

A União Africana, além de mediar o conflito, propõe-se a enviar dois mil soldados para o Darfur, que devem proteger os monitores que fiscalizam o cessar-fogo.

Restam ao Sudão três semanas para mostrar ao Conselho de Segurança da ONU que vai de facto proceder ao desmantelamento e desarmamento da Janjaweed. Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países que constituem a Liga Árabe reúnem-se hoje no Cairo, em sessão extraordinária, a fim de encontrarem os meios de prolongar o prazo de 30 dias que o Conselho de Segurança dera no fim de Julho ao Sudão para resolver a crise, sob pena do país sofrer sanções.

O International Crisis Group avisa que, sem uma rápida resposta internacional, até Fevereiro do próximo ano poderiam morrer mais 350 mil pessoas, essencialmente devido a fome e a doenças, naquela região dilacerada do Sudão.

Contudo, o Governo do Sudão também fez saber à União Africana que é contra o envio de forças de manutenção de paz para o Darfur. O governo de Cartum tem "objecções contra a transformação dos observadores do cessar-fogo e da força de 300 homens encarregues da sua protecção numa força de manutenção de paz".

O embaixador sudanês em Addis Abeba, Osmane Al-Sayyed, disse ao jornal do Sudão "Al-Anbaa" que essas objecções têm como fundamento a inexistência de um acordo com a União Afriacana e a ONU sobre o assunto e afirma que "a segurança é da única responsabilidade do governo sudanês".