Moradores queixam-se de assaltos no Bairro Alto
A juntar às queixas por falta de lugares de estacionamento, dificuldade de estacionar em freguesias vizinhas, grande distância dos parques alternativos sugeridos pela EMEL, multas constantes e carros rebocados, os moradores falam agora da grande insegurança em que terão passado a viver.
Segundo os críticos da medida, os moradores estão a ser penalizados pelo facto de viverem em bairros históricos e, dizem, a Câmara de Lisboa só lhes tem piorado a qualidade de vida. João Manuel Carrolo, morador no Bairro Alto, freguesia da Encarnação, é um homem desgastado por um ano de lutas e queixas, mas garante que não se dá por vencido. Na sua opinião, a criminalidade aumentou, e muito, no seu bairro.
"Só não vê quem não quer. Houve um aumento de assaltos nas ruas. É uma constante as pessoas, de todas as idades, assustadas porque lhes roubaram a carteira, o telemóvel, uma jóia, a qualquer hora do dia. Todos se sentem inseguros e, se puderem, optam mesmo por não sair de casa à noite", garante.
Este morador da Travessa de São Pedro diz que se no início do condicionamento do trânsito era um exagero de policiamento no bairro, para disciplinar o estacionamento dos residentes, neste momento não existe polícia nas ruas.
"Nunca houve tanto carro vandalizado, vidros partidos, pneus cortados. Na altura da realização do Euro vi a estupefacção dos turistas com o que se passava e só imagino a ideia que levaram de Lisboa. Assisti a cenas inimagináveis, como a de um turista italiano à porta de uma cabine telefónica, calmamente à espera que um indivíduo acabasse de assaltar o receptáculo das moedas, para poder fazer um telefonema a seguir, como se se tratasse da coisa mais natural do mundo", afirma.
Fernando Marta, morador na freguesia de Santa Catarina, também garante que nunca viu tanto vidro de carro partido e tantas pessoas a queixarem-se de assaltos. Diz que "o diálogo com a EMEL é impossível" e que a falta de policiamento é uma realidade.
Afirma que a PSP é a primeira a desmotivar as pessoas de apresentarem queixa nas esquadras, apesar de a criminalidade ter aumentado a olhos vistos, e indica a Rua João Pereira da Rosa como a pior de todas. "Basta passar lá um dia à noite para se verificar essa realidade com os próprios olhos."
José Gaspar, comerciante, residente na freguesia de Santa Catarina e com loja na freguesia da Encarnação, é também um homem revoltado com o que acontece naquela zona histórica de Lisboa desde que o condicionamento de trânsito chegou. Assegura que a empresa é surda aos protestos dos moradores e que o diálogo é impossível.
"Só danos nos carros causados pelos pilaretes móveis da EMEL, que eu saiba, já ultrapassam os dez, e a empresa nem paga os estragos nem quer saber do assunto, apesar de ser a única responsável pelos danos. Basta um automóvel atrasar-se um pouco a passar após a descida do pilarete ou estar atrás de outro que passou, para correr logo o risco de ficar com o carro lá pendurado", conta.
José Gaspar também diz que em Santa Catarina acabou o convívio dos vizinhos à porta das casas à noite. Todos temem os assaltos e se sentem inseguros, porque o interior do bairro ficou deserto. "Não se vê ninguém na rua e todos têm medo. Só na Rua Marechal Saldanha é que há movimento, de resto, nem pessoas, nem policiamento", afirma.
Este comerciante diz não ter dúvidas de que a criminalidade aumentou e dá como exemplo os carros com vidros partidos e as tentativas de assalto a residências particulares, "coisa que era raro acontecer".
"Na Bica está acontecer o mesmo. As pessoas deixaram as ruas e em pouco menos de duas semanas verificaram-se sete assaltos em casa de idosos, sempre durante a noite, o que deixa todos em pânico, pois era raro haver um caso destes, quanto mais sete seguidos", explica.
José Gaspar, que ouve os relatos assustados de todos os que lhe entram na loja, diz que o último incidente teve lugar na Rua da Hera, paralela à Calçada do Combro, onde durante a noite alguns indivíduos tentaram assaltar um primeiro andar, utilizando como suporte o estendal da vizinha do rés-do-chão.
No entanto, apesar das queixas dos moradores, a PSP garante que "não há uma relação directa entre o condicionamento do trânsito e a pequena criminalidade".
O comissário Borges de Oliveira, comandante da 1ª Divisão da PSP de Lisboa, responsável por aqueles bairros, diz mesmo que "a criminalidade denunciada tem diminuído".
"Notou-se que com o condicionamento do trânsito a afluência de pessoas aumentou, mas, apesar de não termos ainda estatísticas, os indicadores de que dispomos mostram que a criminalidade diminuiu", afirma.