"Doping": campeão mundial dos 400m arrisca erradicação do desporto
Segundo o jornal “L’Équipe”, as análises à amostra A do teste, realizado a 23 de Julho, foram conduzidas no laboratório francês de Châtenay-Malabry, arredores de Paris, o mesmo que desenvolveu a técnica de detecção da EPO através da urina. A outra amostra foi enviada pela Lausana (Suíça), onde se situa um dos laboratórios com capacidade para detectar esta hormona que tem causado inúmeros problemas no desporto.
Se a contra-análise confirmar a positividade do teste, tratar-se-á da segunda violação antidopagem grave de Young e o código mundial (artigo 10.2) prevê para estes casos a irradiação dos atletas. Tal facto foi confirmado pelo secretário-geral da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF), Istvan Gyulai: “Se todos os procedimentos estiveram correctos e se tratar de uma violação por ‘doping’, será claramente um caso de suspensão vitalícia”.
O primeiro controlo positivo de Young registou-se em 1999, quando lhe foi detectada nandrolona. Consumir esteróides anabolisantes é considerado um acto grave no desporto, mas o “sprinter” foi ilibado, sem aparente justificação científica, por um painel de apelo. As regras de confidencialidade da Federação de Atletismo dos EUA permitiram às autoridades desportivas norte-americanas camuflar das instâncias internacionais este e mais algumas dezenas de outros casos de “doping”, nos finais dos anos 80 e na década passada.
Os processos permaneceram no secretismo até 2003, altura em que a imprensa norte-americana denunciou as práticas enraizadas no desporto dos EUA. Young admitiu o que acontecera e a IAAF recorreu para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), enquanto o Comité Olímpico Internacional (COI) exercia pressão para que a federação norte-americana cedesse os documentos confidenciais.
Entretanto, em Junho deste ano, o TAD pronunciou-se a favor da IAAF, criticando o modo como Young foi ilibado e autorizado a participar nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, competição em que competiu na equipa que venceu os 4x400m. Já no mês passado, a IAAF desclassificou o “sprinter” norte-americano de todas as provas sob a sua alçada e exortou o COI a fazer o mesmo em relação aos Jogos Olímpicos. “Como consequência da ineligibilidade de Young para competir, após violação da regras 'antidoping', todos os resultados posteriores devem ser anulados, incluindo os alcançados como membro da equipa de estafeta durante o período de ineligibilidade, desde 26 de Junho de 1999 até 25 de Junho de 2001”, divulgou a IAAF em comunicado.
O organismo internacional exortou ainda o COI a retirar as medalhas de ouro a toda a equipa norte-americana que venceu na Austrália os 4x400m, constituída por Young, Michael Johnson, Alvin Harrison, Calvin Harrison, Antonio Pettigrew e Angelo Taylor (os irmãos Harrison enfrentam processos por violações posteriores das regras antidopagem; Calvin já se encontra suspenso). O Comité Olímpico Internacional decidiu ontem adiar uma decisão sobre o caso para mais tarde, pois termina apenas em Setembro o prazo para os atletas recorrerem das recomendações da IAAF.
Positivo inédito a EPODetectar eritropoietina no desporto é muito comum, mas regista-se quase sempre nas disciplinas de resistência, como o ciclismo ou o atletismo de fundo e meio-fundo, porque este medicamento é usado ilicitamente para estimular a produção de glóbulos vermelhos e, consequentemente, o transporte de oxigénio para as células.
Nas provas de velocidade, os factores decisivos são a força e a capacidade de explosão. Daí o uso de estimulantes e, essencialmente, hormona de crescimento e esteróides anabolisantes, como a nandrolona encontrada em 1999 na urina de Young, que não estava escalado para competir nos Jogos de Atenas 2004.
O norte-americano é mesmo o primeiro “sprinter” a acusar EPO. No entanto, a sua compatriota Kelli White admitiu recentemente que se dopara com esteróides e com eritropoietina, perdendo os títulos dos 100 e 200m, conquistados nos Mundiais de Paris do ano passado, competição em que Young ganhou os 400m.