Saída de Cardoso e Cunha da TAP põe fim a braço-de-ferro na gestão da transportadora

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A demissão de Cardoso e Cunha, anunciada quinta-feira à noite pelo Governo, foi inesperada, aguardando-se sim a saída dos gestores brasileiros António Cotrim/Lusa

Ex-ministro da Agricultura em governos do PSD, primeiro comissário europeu português, com a pasta da Energia, e primeiro comissário da Expo 98, Cardoso e Cunha entrou em rota de colisão com a equipa de gestores brasileiros chefiada por Fernando Pinto, que entrara para a empresa em 2000, durante o governo socialista.

Em Maio do ano passado, em entrevista ao "Diário Económico", Cardoso e Cunha disse que as prioridades mudaram e que o objectivo passou a ser preparar a empresa para a sua privatização e não a sua recuperação, numa inversão total relativamente à política até então seguida pelo administrador-delegado, que defendia a importância de reestruturar a empresa para que ela pudesse sobreviver por si só, não sendo a sua venda essencial para a recuperação.

As divergências entre Cardoso e Cunha e Fernando Pinto saltaram frequentemente para as páginas dos jornais, tendo-se a situação agudizado já este ano, com a divulgação dos resultados da transportadora aérea.

Notícias na imprensa atribuídas a fontes próximas de Fernando Pinto sobre os lucros alcançados pela empresa em 2003 foram publicamente desmentidas por Cardoso e Cunha, que as considerou, mesmo, "um acto hostil", alegando que o conselho de administração da empresa ainda não conhecia as contas nem as tinha aprovado.

No editorial do jornal da TAP de Março, o administrador-delegado adiantou que "os dados provisórios apontavam para resultados positivos, e acima do orçamentado", embora sem quantificar, mas admitia, no entanto, que os resultados operacionais "ficaram abaixo do desejado".

As divergências entre o presidente do conselho de administração e o presidente da comissão executiva da transportadora aérea, tornadas públicas, levaram o PCP a pedir a demissão de Cardoso e Cunha e o ministro de então da tutela, Carmona Rodrigues, a reiterar a confiança nos dois gestores.

A polémica sobre a quantificação dos resultados, o modo como foram conseguidos e se deveriam ser considerados um sucesso ou um fracasso reflectia a co-habitação conturbada na liderança da companhia.

Finalmente, a 1 de Abril, a TAP Air Portugal apresentou publicamente as contas de 2003, registando um lucro de 19,7 milhões de euros, depois de quatro anos de prejuízos.

Na ocasião, Cardoso e Cunha afirmou que o modelo de governação na TAP estava em pleno funcionamento, contrariando os rumores de instabilidade entre a administração e a equipa de gestão.

"O modelo de governação está em pleno funcionamento. Cada um sabe o que está a fazer e tenho a sorte de estar acompanhado a todo o momento de profissionais sérios, que respeito", disse.

Só que, em Julho, numa entrevista à RTP, Fernando Pinto anunciou que estava de saída da TAP com a sua equipa de gestores brasileiros, Michael Connolly e Luiz Gama Mór, antes do fim do contrato, previsto para Dezembro, e que o processo de saída só foi atrasado pela situação política provocada pela demissão do primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso.

No entanto, na mesma altura, o administrador-delegado da TAP disse que a sua saída não era irreversível.

A demissão de Cardoso e Cunha, anunciada quinta-feira à noite pelo Governo, foi por isso inesperada, aguardando-se sim a saída dos gestores brasileiros.

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