A niquetamida é comum nos controlos "antidoping"?
Um caso como o de Torri Edwards, campeã mundial dos 100m, é raro no desporto. Apesar de os estimulantes encontrarem muitos adeptos no desporto, essencialmente em modalidades onde a necessidade de explosão física é mais premente, a niquetamida é difícil de encontrar nos países da União Europeia ou nos EUA, porque a sua eficácia clínica não compensa os efeitos secundários. Juan Manuel Alonso, director dos serviços médicos da Federação Espanhola de Atletismo e presidente da comissão médica da Associação Internacional das Federações de Atletismo, explicou num artigo publicado no “El País” que a niquetamida é proibida no desporto porque pode ser usada para “estimular o sistema circulatório, aumentando a pressão sanguínea, e o respiratório, pois aumenta o ritmo e a profundidade da respiração”. Segundo este responsável, é precisamente pelo facto de ser difícil de encontrar que a niquetamida pode ser apetecível no desporto. “A sua utilização seria destinada a diminuir a fadiga, melhorar o rendimento e tentar enganar os laboratórios de controlo da dopagem, pensando-se que um estimulante tão raro não vai ser detectado”, vincou Alonso. O obstáculo para os atletas batoteiros reside na forma como os laboratórios trabalham: todas as substâncias na lista proibida são testadas, até ao momento em que a Agência Mundial Antidopagem as retire; mesmo assim, há produtos que continuam sob vigilância, como a cafeína e a pseudoefedrina Ao nível médico, esta substância ainda é usada no Leste europeu e na América Latina para tratar colapsos do sistema respiratório ou em asfixias de recém nascidos. |
"Doping": IAAF recomendou suspensão da campeã mundial dos 100m
A norte-americana enfrenta este processo por violação das regras antidopagem devido a um controlo efectuado no dia 24 de Abril, durante um “meeting” em Fort-de-France, na ilha de Martinica, cujas análises detectaram niquetamida. Após a divulgação pública do caso, a velocista argumentou em comunicado que se trata de um caso de dopagem inadvertida, provocado por um suplemento de glucose contaminado, comprado em Martinica pelo seu preparador físico.
No final do mês passado, Edwards foi ouvida por um painel de arbitragem da Agência “Antidoping” dos EUA, que considerou a possibilidade de haver “circunstâncias excepcionais” neste caso, abrindo caminho à imposição de apenas “um aviso e uma advertência”, previsto quando um atleta enfrenta o primeiro controlo positivo e o produto em causa figura entre os “menos susceptíveis de serem utilizados com sucesso como agentes dopantes”.
No entanto, de acordo com o jornal “Chicago Tribune”, a IAAF informou a Federação de Atletismo dos EUA que a lista de substâncias dopantes prevê apenas “circunstâncias excepcionais” para alguns estimulantes, nunca para a niquetamida, e que por isso deve ser aplicada a regra geral: dois anos de suspensão. A norte-americana ainda pode recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto.
Perder Edwards pode ser significativo para os EUA. A “sprinter” é uma das candidatas ao ouro olímpico nos 100 e 200m, pois é portadora do estatuto de campeã mundial na primeira distância, depois da desclassificação da sua compatriota Kelli White (admitiu ter-se dopado com esteróides e eritropoietina), e é medalha de prata nos 200m podendo ainda beneficiar do facto de a russa Anastasiya Kapachinskaya, primeira na distância após desclassificação de White, ter sido entretanto suspensa devido a um controlo positivo realizado nos Mundiais de pista coberta. Para além destas duas medalhas, Edwards é importante para a equipa da estafeta 4x100m.
Se for suspensa, Edwards deverá ser substituída por Gail Devers (100) e Lashaunte’a Moore (200m), terceiras nos apuramentos. Devers ainda não decidiu se está disposta a correr a distância mais curta do atletismo, mas Marion Jones, campeã olímpica que falhou a qualificação, já se mostrou disponível. O problema de Jones é que figura numa lista de 27 atletas sob investigação por suspeita de terem consumido dopantes da Balco (Bay Area Co-Operative Laboratory), empresa acusada de ter desenvolvido o esteróide sintético tetrahidrogestrinona (THG).