Ainda tudo está por decidir na Volta
A quatro dias do final de mais uma edição da prova maior do ciclismo português tanto Justino Curto, director da prova, como Joaquim Gomes, director técnico da mesma, fazem um balanço positivo do que ficou para trás e ambos concordam em que seria bonito assistir a um contra-relógio final decisivo.
"Esta primeira parte da Volta a Portugal ficou muito condicionada pela primeira etapa [Monfortinho - Castelo Branco] que fez com que um grande número de corredores - alguns deles muito bons - perdessem muito tempo. E isso, num primeiro dia - quando alguns deles têm expectativas elevadas em relação ao resultado final da Volta - deixa-os revoltados e faz com que no dia seguinte façam tudo para compensar a desilusão inicial", analisa Joaquim Gomes, frisando que são esses corredores "que estão a dar o tudo por tudo para brilhar na Volta, que têm tornado a corrida espectacular": "É essa vontade de se mostrarem que tem feito com que todos os dias haja fugas a alta velocidade e chegadas ao 'sprint', que infelizmente têm sido em grupos restritos."
Também o director da prova, Justino Curto, considera que esta primeira parte da Volta correspondeu plenamente às expectativas. "Só posso fazer um balanço positivo, tanto em termos organizativos como competitivos", diz. Para o responsável pela organização da prova, a subida à Torre, marcada para amanhã, será mais uma vez o momento alto da prova, mesmo que continue a acreditar que será o contra-relógio final em Sintra que ditará o vencedor desta 66ª edição: "Estão criadas todas as condições para que a Torre seja novamente um sucesso. Neste momento ainda há vários ciclistas a discutir a vitória, com poucas diferenças de tempo entre si, portanto, a Torre antes do último dia - que eu continuo a defender que decidirá a corrida - vai fazer a diferença, decidindo os três primeiros lugares."
Nuno Ribeiro (LA-Pecol), o vencedor do ano passado, é outro dos que se diz satisfeito com esta primeira parte da Volta. Terceiro classificado da geral, a 1m12s do camisola amarela, Jose Miguel Elias (Relax-Bodysol), Ribeiro diz que tudo está a correr dentro das suas expectativas. "Daqui até ao fim vou tentar cumprir o que disse que faria: revalidar a vitória. Afinal, é para isso que tanto eu como a minha equipa aqui estamos", afirmou, referindo que apesar "dos adversários fortes" mantém "o espírito vencedor do primeiro dia."
As exigências finaisApesar da Volta estar a caminhar para o seu final isso não significa que as dificuldades tenham terminado. Antes pelo contrário, a atender nas palavras de Joaquim Gomes, o grande responsável pelo traçado da Volta, as maiores dificuldades ainda estão para vir.
"Amanhã [hoje] temos uma etapa de transição que nos vai levar de São João da Madeira a Gouveia [152,3k] e que termina com uma contagem de montanha de 3ª categoria dentro de Gouveia, algo que não acontece em mais nenhuma cidade do país. Vai ser uma etapa espectacular", refere Gomes, lembrando que é no dia seguinte, na subida à Torre, a etapa "rainha" da prova, que vão surgir as grandes decisões. "É aí que vai ser feita a triagem que ainda não aconteceu na Sra. da Graça." Depois da exigência da subida ao ponto mais alto de Portugal, a Volta regressa ao piso plano para uma tirada de 147,2km entre a Figueira da Foz e Alcobaça. "Esta etapa apesar de não ter dificuldades em termos de relevo não vai ser um dia de descanso. Mais que não seja porque os corredores que estão para trás sabem que esta é, porventura, a sua última oportunidade de brilhar", explica Gomes, passando a descrever as exigências do contra-relógio final: "É difícil, por obrigar a constantes mudanças de ritmo e, como surge no final da prova, é provável que seja ganho não por um especialista, mas por um corredor que tenha conseguido reunir reservas para durante 40 minutos se concentrar e dar o seu melhor", conclui o antigo ciclista, dizendo que no último dia gostava de ver pelo menos dois corredores a disputarem a vitória na Volta no contra-relógio. "Isso seria ouro sobre azul", diz, a sorrir.