Dois filmes portugueses competem em Locarno

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O filme português André Valente, primeira longa-metragem de Catarina Ruivo, está este ano na corrida ao Leopardo de Ouro Martial Trezzini/EPA

Significativo é o facto de a selecção revelar uma grande heterogeneidade no que toca às origens das obras, provenientes de 17 diferentes países - mas onde se nota o peso que o cinema asiático tem vindo a ganhar. "Escolhemos os títulos que tinham mais para dizer sobre o actual estado tumultuoso do mundo - e as formas mais pertinentes, impertinentes e interessantes de o fazer", justificou a directora do festival, Irene Bignardi.

Logo se verá o que "André Valente" tem a dizer: o filme, uma produção da Madragoa Filmes de Paulo Branco, estreia em Portugal a 16 de Setembro. É uma primeira obra sobre a infância, centrada num miúdo de oito anos (interpretado pelo estreante Leonardo Viveiros) que é deixado com a mãe depois do pai partir e que terá, lê-se na sinopse, de "inventar a sua felicidade". Diz a realizadora, numa nota de intenções: "Há uma tendência para idealizarmos a infância como um tempo vivido sem preocupações ou sofrimento, quando na realidade é um período da nossa vida onde todos os dias enfrentamos grandes provas e onde coisas que mais tarde aprendemos a relativizar tomam proporções assustadoras". Além da realização, Catarina Ruivo - que anteriormente dirigira a curta-metragem "Uma Cerveja no Inverno", em 1998, e tem trabalhado em montagem para filmes de Joaquim Sapinho e Alberto Seixas Santos - assina o argumento e montagem. "André Valente" conta no"cast" com nomes como Rita Durão ou Ricardo Aibéo e vai ser exibido em Locarno no próximo dia 8.

O projecto "Visões da Europa", composto por 25 curtas-metragens, entre as quais "Cold Wa(te)r", de Teresa Villaverde, integra a competição vídeo "Cineastas do Presente" (é exibido em Locarno a 13 de Agosto). "Visões da Europa" resulta de uma iniciativa do canal ZDF/Arte e da produtora dinamarquesa Zentropa, de Lars Von Trier, que, a propósito do alargamento da União Europeia a 25 países, desafiaram 25 nomes do cinema europeu a realizar uma curta-metragem de cinco minutos. Entre eles, contam-se autores centrais como o britânico Peter Greenaway, o lituano Sharunas Bartas, o húngaro Béla Tarr ou o finlandês Aki Kaurismaki (que faz o retrato de uma pequena aldeia do interior norte de Portugal).

A curta-metragem da realizadora de "Os Mutantes", produzida pela Filmes do Tejo, é feita de imagens de arquivo retrabalhadas e "assume-se como uma reflexão sobre a possibilidade de um conjunto de países, fechando-se a outros países que geograficamente lhes estão ao lado", lê-se no "press release" da produtora. "Visões da Europa" já foi exibido a 1 de Maio - dia do alargamento europeu a 25 países - na Culturgest, em Lisboa, e será editado em DVD (embora não esteja posta de parte a sua estreia em sala) e exibido na RTP.

Na competição internacional está também a co-produção franco-portuguesa "Ordo", de Laurence Ferreira Barbosa, realizadora de "As Pessoas Normais Não Têm Nada de Especial", rodada em Portugal. O júri da principal competição é presidido pelo fotógrafo da Magnum René Burri e composto, entre outros, pelo realizador francês Olivier Assayas e o actor Udo Kier.

O 57º Festival de Locarno prolonga-se até dia 14 e inclui um tributo a Marlon Brando (com a exibição, na famosa Piazza Grande, com o maior ecrã de cinema ao ar livre da Europa, de "Queimada", de Gillo Pontecorvo) e uma mega-retrospectiva de 90 filmes intitulada "Newsfront" sobre a forma como o cinema olhou e olha para o jornalismo, desde raridades ("L'affaire Dreyfus", de Georges Méliès, 1899) a... Michael Moore ("Roger and Me").

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