Bióloga portuguesa distinguida com prémio europeu
Atribuído pela Fundação Europeia de Ciência (ESF, na sigla inglesa) e a Organização Europeia dos Responsáveis dos Conselhos Nacionais de Investigação da União Europeia (Eurohorc), o galardão distinguiu 25 jovens - entre eles Maria Mota, de 33 anos.
Lançado em Setembro do ano passado, o Euryi destina-se a atrair jovens investigadores para a carreira científica na Europa, explica um comunicado divulgado ontem pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que é responsável pelo financiamento da comunidade científica portuguesa e é uma das 18 instituições europeias a integrar a Eurohorc. A FCT comprometeu-se, neste concurso, a pagar duas das bolsas, informou o presidente da fundação, Fernando Ramôa Ribeiro.
Na fase nacional do concurso foram apresentadas 777 candidaturas (13 portuguesas), das quais se seleccionaram 133 (duas portuguesas), que depois foram enviadas para apreciação pela ESF, de forma a escolherem-se as 25 melhores. A candidatura de Maria Mota acabou por ser a única premiada oriunda de Portugal.
E que representa este prémio para a investigadora, que será entregue no dia 26 deste mês, em Estocolmo? "É fantástico", comentou. "Grande parte da nossa vida é andar a angariar financiamento para funcionar no laboratório. Os projectos financiados pela FCT dão no máximo 100 mil euros para três anos, o que significa que passamos a maior parte do tempo a escrever projectos a pedir financiamento. Nos próximos cinco anos, não vou ter de pedir mais financiamento, o que é excelente para mim."
Com Maria Mota - que se doutorou na University College, em Londres, em 1998, e de 1999 a 2001 deu aulas na Faculdade de Medicina da Universidade de Nova Iorque, EUA -, também passará para o Instituto de Medicina Molecular a equipa que chefiava, constituída principalmente por estudantes. "Neste momento, vão transitar oito pessoas." O facto de não ter de andar a pedir verbas para a investigação vai deixá-la com mais tempo para acompanhar os estudantes na bancada do laboratório, sublinhou.
O projecto premiado irá estudar o papel das células do fígado, os hepatócitos, no desenvolvimento do parasita da malária, ou seja, estudar-se-á a interacção entre o parasita da malária e o hospedeiro, em particular o papel dos hepatócitos no ciclo infeccioso do parasita.
O parasita da malária, o "Plasmodium", é transmitido pela picada de mosquitos do género "Anopheles". Depressa o parasita, na fase inicial de esporozóito, migra para o fígado, onde depois de percorrer várias células, para distrair o sistema imunitário, escolhe uma para iniciar o processo de infecção. Desenvolve-se aí em merozóito, e é então que é libertado na corrente sanguínea e se inicia a fase clínica da doença. Na melhor das hipóteses, a doença causa ataques de febre, suores e arrepios. Na pior, o resultado é a morte.
Vários estudos têm mostrado que o parasita usa os hepatócitos para ter sucesso na infecção. Mas a razão por que os esporozóitos só conseguem desenvolver-se nestas células é um mistério. "Quais são as moléculas que o parasita precisa para se desenvolver? Proponho-me tentar descobrir os factores que permitem o desenvolvimento do parasita", resumiu Maria Mota.