Circular das Colinas é fundamental para tirar trânsito da Baixa

A resolução dos problemas de trânsito na Baixa Pombalina exige a criação de uma nova via circular que ligará a Av. Infante Santo à Av. Mouzinho de Albuquerque e poderá incluir dois troços em túnel. Esta constatação resulta dos estudos de tráfego efectuados no ano passado pela equipa do professor José Manuel Viegas, no âmbito dos trabalhos ainda em curso da revisão do Plano Director Municipal (PDM) de Lisboa, e foi apresentada publicamente na reunião camarária de quarta-feira."A Baixa não pode continuar a ser uma via de distribuição de tráfego através do eixo radial constituído pela Rua do Ouro e pela Avenida da Liberdade", sublinhou o vereador do Trânsito, António Monteiro, na apresentação do "Estudo da Redução de Tráfego na Baixa Pombalina", desenvolvido a partir das propostas de José Manuel Viegas, cuja empresa está actualmente a trabalhar no plano global de mobilidade da cidade.A ideia de uma nova circular - agora chamada das Colinas e que se vem juntar à Segunda Circular e à incompleta Primeira Circular, que percorre as avenidas de Ceuta, Gulbenkian, Berna, João XXI e Afonso Costa e há-de um dia prosseguir das Olaias para a praça Paiva Couceiro e daí para a já existente Mouzinho de Albuquerque até à Infante D. Henrique - remonta aos anos 60, conforme lembrou o vereador socialista Vasco Franco, mas surge agora como "indispensável".A importância fundamental desta via radica no facto de 70 por cento dos veículos que circulam na lateral Nascente do Terreiro do Paço e na Rua da Prata nas horas de ponta de manhã e 47 por cento daqueles que descem a Rua do Ouro e a lateral Poente nas horas de ponta da tarde se dirigirem a zonas exteriores à Baixa, sendo por isso simples tráfego de atravessamento.Falando da Circular das Colinas como uma solução a aprofundar no quadro da revisão do PDM, António Monteiro explicou que ela teria origem, nos seus extremos, nas "vias de penetração natural" que são a Infante Santo e a Av. Mouzinho de Albuquerque, e seria fechada através da Avenida Pedro Álvares Cabral, Av. Alexandre Herculano, Rua do Conde de Redondo, Rua de Angola e Av. Coronel Eduardo Galhardo. Em alternativa, admitiu a hipótese de o percurso divergir na Alexandre Herculano para a Rua Braancamp, Av. Duque de Loulé, Pascoal de Melo e novamente Eduardo Galhardo. Neste traçado poderia surgir um túnel para ligar a Infante Santo à Pedro Alvares Cabral, na zona da Estrela, e outro entre a Rua de Angola e a Eduardo Galhardo, na Penha de França. No caso da solução alternativa, o segundo túnel iria da Pascoal de Melo à Eduardo Galhardo.Na opinião de José Manuel Viegas, a instalação desta nova circular - que, aliada a outras medidas, poderia retirar da Baixa uma grande parte do tráfego que hoje a congestiona em permanência e provém (ou se destina) às zonas a norte da Alexandre Herculano (na Av. da Liberdade) e dos Anjos (na Almirante Reis) - poderia não exigir grandes investimentos e teria como base as vias já existentes. "O nosso estudo diz que é provável que os túneis sejam necessários na zona da Estrela e da Penha de França, mas o essencial consegue-se com a supressão do estacionamento em toda a extensão da circular e com os semáforos." A hipótese de mais uma circular em túnelO mesmo docente do Instituto Superior Técnico refere que esta circular "não seria uma via rápida, mas uma via fluida com boas condições de circulação" e defende que, em complemento e apenas depois da sua entrada em funcionamento, poderiam ser adoptadas "medidas de labirintização" da Baixa que reduziriam ainda mais a circulação nessa zona. No essencial, essas medidas correspondem à "dificultação" do atravessamento da zona a todos os que não a conhecem bem - tal como já acontece no Bairro do Arco do Cego -, através da manipulação dos sinais de trânsito e dos semáforos.Com estas duas soluções, nova circular e "acalmia do tráfego" na Baixa, seria ainda possível limitar mais o acesso dos veículos, mas José Manuel Viegas sustenta que isso só faria sentido se se quisesse fazer da zona uma nova centralidade de comércio e serviços entregue aos peões e se apostasse fortemente num plano de revitalização local. Para atingir esse objectivo, poder-se-ia, a prazo, construir um túnel que corresponderia a uma outra circular mais apertada e que partiria das imediações da Praça da Ribeira, passaria por baixo do Bairro Alto, Restauradores, Martim Moniz, Castelo e Alfama e sairia na Infante D. Henrique, perto do Campo das Cebolas. Teoricamente seria ainda possível fechar este túnel entre o Campo das Cebolas e a Praça da Ribeira por baixo do Tejo. Tratando-se aqui de hipóteses longínquas, António Monteiro não lhe fez qualquer referência na apresentação pública desta semana.Perante os elementos fornecidos e as propostas avançadas, Vasco Franco saudou o executivo pela "reflexão" e pelo "trabalho" que eles representam, mas desabafou: "Como teria sido bom que isto tivesse sido feito quando se lançou o túnel do Marquês". Aproveitando a deixa, António Monteiro considerou que esse túnel "será extremamente útil neste contexto" de redução do tráfego na Baixa. Questionado pelo PÚBLICO, porém, José Manuel Viegas considerou que a ideia da nova circular é "virtualmente independente do túnel do Marquês" e que este "não aquece nem arrefece" em relação a esse tipo de propostas.

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