OMC: secretário de Estado diz que negociações caminham na direcção certa

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Os países mais pobres continuam a contestar o poder dos países ricos no comércio internacional e hoje não deixaram de ser representados em Genebra Laurent Gillieron/EPA

"Acho que está a correr bem. Foram dados passos importantes mas, neste género de negociações, nada está concluído até tudo estar concluído. Não há nenhum sector parcial que esteja concluído, embora os desenvolvimentos sejam encorajadores", disse à Lusa, em Genebra.

Escusando-se a comentar em detalhe os aspectos do documento, Mário David frisou ter havido um acordo para que os Estados-membros da União Europeia reservem comentários para mais tarde, considerando o texto "encorajador", quer do ponto de vista das expectativas que existiam quer no que toca ao resultado final.

"As negociações vão decorrer durante mais 24 horas, vai haver uma discussão pontual, no detalhe, e só depois é que podemos ter uma decisão", afirmou.

O representante português confirmouque a França é actualmente o país que mantém uma postura de maior crítica ao texto em debate, uma análise ecoada por vários participantes no encontro que afirmaram à Lusa "não entender o excesso de zelo" de Paris.

"A delegação francesa foi a que mais criticou o conteúdo do texto e até a metodologia, mas a União actua em bloco. Esta é uma área em que é necessário unanimidade, e toda a gente à volta da mesa, incluindo a França, concordou que a comissão está a cumprir adequadamente o mandato", frisou Mário David.

Grande parte das críticas de Paris deve-se à percepção de que o texto é pouco claro na questão dos créditos à exportação que os Estados Unidos pagam aos seus agricultores, sendo mais claro na abolição de subsídios na Europa.

Os 25 acabaram por decidir que caberá à presidência holandesa decidir se o assunto deve ou não ir a conselho de ministros da UE. Se tal acontecer, e dada a necessidade de unanimidade nesse órgão, a França poderá conseguir bloquear um sim ao acordo.

Um participante no encontro, que solicitou o anonimato, disse à Lusa que a posição francesa ficou marcada "por um total isolamento", com Paris a não encontrar à roda da mesa qualquer apoio "quer nas grandes objecções de conteúdo" quer no que se refere "aos aspectos técnicos e de procedimento".

O texto proposto hoje pela OMC - e que será agora debatido pelos 147 membros da organização durante todo o dia de hoje - servirá como base para uma nova fórmula de trabalho que permita fazer avançar a ronda negocial de Doha.