Ontem, a organização do evento afinava as barreiras de protecção e os palcos, os comerciantes locais recebiam os últimos "stocks" extra de víveres, seis das previstas vinte "roulottes" montavam o negócio e os - ainda poucos - campistas instalavam-se nas margens do Coura.
"Lá vem a confusão", soltou, meio sério meio brincalhão, o morador André Pinto, enquanto olhava para os dois palcos do festival da vaquinha, junto à ponte românica do rio Coura. "Temos a honra de receber grandes músicos, mas, depois, há as queixas do ruído até às tantas, os campos de milho vandalizados pelo campismo e o cheiro a álcool durante quatro, cinco dias...", recordou, acrescentando que o fim-de-semana "vai ser de muito trabalho" ao balcão do "Café Encontro".
Em termos logísticos, o presidente da junta de freguesia de Vilar de Mouros, Carlos Alves, assegurou ao PÚBLICO que "está tudo em ordem" para atingir os esperados trinta mil visitantes. Exemplificando com os dedos, frisou que a aldeia tem "uma vintena" de parques de estacionamento para alojar acima de quatro mil veículos, as imediações das azenhas do rio Coura têm capacidade "para mais de 15 mil campistas, como aconteceu em 2003", alguns moradores também disponibilizaram "dezenas de quartos" a interessados, os autocarros da Courense "farão ligação de meia em meia hora" à estação da CP e ao centro de Caminha. Além disso, vai ser possível encontrar "quarenta estabelecimentos de comes e bebes" ao dispor, metade deles ambulantes, largas dezenas de seguranças e agentes policiais e mais de uma centena de sanitários. Paralelamente, o recinto do evento conta com assistência médica, multibanco, zonas de sombra e tenda de artesanato. A meteorologia prevê, também, que o sol assente arraiais no Alto Minho nos próximos dias.
Mais: há uma boa novidade. O palco secundário - que sediou em 1971 o mítico festival lançado por António Barge e onde, este ano, vão actuar as novas bandas e os grupos tradicionais, além de aí haver sete sessões de cinema (estão incluídos os dois "Kill Bill", de Tarantino, ou homenagem a Marlon Brando) - será de entrada livre. "Haverá imensa animação para quem não puder pagar bilhete e não creio que percamos espectadores para o palco nobre, porque os aficcionados vão continuar a ir aos principais concertos", realçou Carlos Alves.
A freguesia, que até tem no brasão uma guitarra estilizada, prepara-se para a enchente. No "Café Central", os empregados vão passar de dois para seis e os trinta barris de cerveja - "tantos quantos os que se beberam na festa há um ano", segundo a responsável Luísa Gomes - estão acumulados a um canto, à espera das gargantas mais sequiosas. Em frente, o mini-mercado da aldeia reforçou os "stocks" de bolachas, bebidas, conservas, batatas fritas e, em menor quantidade, o pão ("os jovens só se lembram do pão mais no primeiro dia").
Manuel Bastos, da "Roulotte Motard", chegou ontem ao evento pela quarta vez consecutiva, pronto para oferecer "os assadinhos do costume", desde frango a entrecosto, de bifanas a cachorros. Preço? "Os habituais três euros." E concorrência? "Isto é tudo amigo, cada qual tem o seu galho e os clientes voltam de ano a ano." Um deles, o barcelense José Novais, de 19 anos, fixou de manhã a tenda com três conterrâneos e estranhou a redução de festivaleiros em comparação com a semana homóloga de 2003. "Talvez seja devido ao cartaz, que puxa mais para a geração dos meus pais, ou então devido à crise económica", suspeitou, lamentando que o preço da cerveja, a 1,5 euros, seja "uma exploração". Na caravana dos gelados, Armanda Teixeira não teme a crise. "P'ró Vilar de Mouros há sempre uns trocos, mesmo depois de Euro 2004, Rock In Rio Lisboa e Super Bock Super Rock. O Vilar de Mouros é o nosso 'Woodstock'", exprimiu-se.
No vizinho Parque Natural de Vilar de Mouros - que tem 2,5 hectares para alojar quatrocentas pessoas em tenda (também há seis "bungalows") e parque para cem viaturas -, já chegaram uma centena de pessoas, de acordo com o proprietário Germano Ramalhosa. Hoje devem vir outros tantos e amanhã os restantes. O espaço, que existe há 24 anos e inclui piscina, campo de ténis e esplanadas, tinha sido totalmente requisitado para este fim-de-semana até Maio passado, por pessoas vindas "do Algarve à Galiza, mas também da Holanda e Inglaterra". O preço diário do campista é de 3,5 euros.