CP substitui comboios por autocarros no ramal de Vendas Novas

Fraca procura, custos elevados e a necessidade de renovar automotoras com 56 anos de idade, levaram a CP a abandonar o serviço ferroviário no ramal de Vendas Novas e na linha que liga Torre das Vargens à estação fronteiriça de Marvão-Beirã. Ao todo são 134 quilómetros que praticamente ficarão sem comboios de passageiros, subsistindo apenas o serviço de mercadorias.A transportadora fez publicar anúncios para concessionar aquele serviço a empresas de camionagem e informou todos os presidentes das autarquias servidas por aquelas linhas. Segundo fonte da empresa, nenhum dos eleitos protestou porque a CP assegura o mesmo serviço e os mesmos preços através de autocarros, com a vantagem de estes servirem o centro das povoações que, quase sempre, se encontram afastadas da estação de caminhos-de-ferro.A empresa alega que esta situação é provisória embora num prazo alargado, que poderá ultrapassar os dois anos. Mas se a procura continuar escassa e os autocarros andarem vazios, é provável que aconteça o mesmo que na linha entre Sines e Ermidas onde, após um serviço rodoviário de substituição a cargo da CP, este foi extinto, ficando a linha afecta apenas a mercadorias.A desertificação do interior, o envelhecimento da população (que tende a ter menos mobilidade) e a distância das estações às respectivas localidades, explicam que grande parte das automotoras raramente circulem com mais de dez passageiros. Mas os horários parecem ser feitos para não assegurar ligações eficientes com a rede ferroviária do país. É o caso do eixo Setil-Vendas Novas, uma linha de 69 quilómetros que liga a Linha do Norte à rede ferroviária do Alentejo, onde a CP só tem duas circulações diárias (e apenas uma aos sábados). Coruche, o principal centro servido por esta linha, fica a uma hora e 40 minutos de Lisboa, mas ninguém usa o comboio para a capital, nem para Azambuja ou Santarém porque os horários não são condizentes.Por outro lado, o tempo de percurso para Lisboa é praticamente o mesmo desde há 20 anos. Parte da Linha do Norte já foi modernizada e ficou apta a velocidades de 200 km/hora, mas a transportadora ferroviária não tem feito repercutir nas outras linhas as reduções dos tempos de viagem agora obtidos.A outra linha que também vai ficar sem comboios regionais tem 65 quilómetros e liga Marvão a Torre das Vargens ( no encontro da linha de Badajoz para o Entroncamento). As duas principais vilas - Marvão e Castelo de Vide - ficam longe da via férrea e também aqui quase ninguém usa o comboio para Lisboa. Nos anos de 1980 havia comboios directos entre estas estações e a capital; agora é preciso apanhar três comboios para se fazer o mesmo percurso.Os resultados do concurso público para a concessão rodoviária só serão conhecidos em Setembro. A CP terá que convencer os candidatos a fazer o mesmo serviço com os mesmos custos. Se não o conseguir poderá pedir ao Governo que subsidie a empresa de camionagem.Todas as experiências anteriores nas linhas do Alentejo e de Trás-os-Montes onde os comboios foram substituídos por autocarros conduziram ao abandono do serviço ferroviário nos moldes em que fora concessionado e, muitas vezes, ao fim do próprio serviço.Vieram da Suécia para Portugal em 1948 e são as automotoras mais antigas da CP. Asseguram o transporte regional nas linhas onde este serviço está a ser posto em causa (as receitas só cobrem 30 por cento das despesas). São as velhas e ruidosas Nohab que, aos 56 anos, vão ser retiradas da circulação. Mas o seu destino não será o sucateiro nem o museu. A empresa está a pensar carroçá-las e dotá-las de assentos novos, ar condicionado e um design mais moderno para as voltar a pôr ao serviço. Há dois anos a CP chegou a lançar um concurso público para comprar automotoras novas, mas desistiu. Num país pobre, a "modernização" de material com mais de meio século, apresenta-se como a solução possível.

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