Freitas do Amaral oferece arquivos da sua presidência da Assembleia Geral da ONU
O gesto foi elogiado pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Teresa Gouveia, que destacou o "sentido cívico" de Freitas do Amaral, ao fazer esta contribuição, que traduz um "enriquecimento do património político-diplomático" português com "documentação da maior relevância".
"Tenho muito gosto em fazê-lo e em que seja feito ainda durante a sua permanência neste ministério", declarou Freitas do Amaral, em resposta à ministra.
A doação das oito caixas, que contêm centena e meia de documentos, num total de milhares de páginas, foi hoje formalizada com uma cerimónia no MNE.
Questionado pelos jornalistas, após a cerimónia, Freitas do Amaral destacou do acervo os discursos oficiais que pronunciou, a correspondência trocada com o então secretário-geral da ONU Butros-Butros Ghali e com os diferentes embaixadores e "os esforços muito sérios que foram feitos, embora não tenham ainda resultados, para lançar o processo de reforma das Nações Unidas".
"Trabalhámos muito durante aquele ano", disse, referindo entre as muitas vertentes desse processo a reforma e alargamento do Conselho de Segurança, a reforma das finanças da organização, a redução ou não do pessoal, o reforço das competências da Assembleia Geral e a melhor articulação entre Conselho de Segurança e Assembleia Geral.
"Estive envolvido, do primeiro ao último dia, nessa tarefa. E é interessante porque foi o arranque do processo de reforma e, quando ele vier a culminar, vai ser importante saber como é que começou", observou.
No plano do significado pessoal, Freitas do Amaral destacou um discurso proferido em 1996 aos jovens diplomados em Relações Internacionais da Universidade de Berkeley (Califórnia), que marcou o início da reacção das Nações Unidas às críticas da ala mais conservadora do Partido Republicano. "Acho que esse discurso foi muito importante, não só pelo impacte, mas também porque, para mim, foi verdadeiramente aí que tomei consciência de quão desligadas do mundo estavam as pessoas que se situavam na ala mais radical do Partido Republicano e que, por exemplo, acusavam a ONU de estar a preparar um exército para invadir Washington", explicou.
Sobre os motivos da sua doação, Freitas do Amaral afirmou saber por experiência própria — primeiro como ministro dos Negócios Estrangeiros, depois como investigador — "a importância da preservação da memória diplomática da actuação do Estado português e da actuação das organizações internacionais em que o Estado português está representado". Por essa razão, reservou para o MNE a parte dos arquivos relativa à presidência da Assembleia Geral da ONU, separando-a do conjunto do seu espólio político pessoal que há duas semanas ofereceu ao Arquivo Municipal de Guimarães.
Freitas do Amaral foi presidente da 50ª Assembleia Geral da ONU entre Setembro de 1995 e Setembro de 1996. Fundador e presidente do Centro Democrático Social (CDS), foi vice-primeiro-ministro (1980-82), ministro dos Negócios Estrangeiros (1980) e ministro da Defesa (1981-82). Entre 1981 e 1983 presidiu à União Europeia das Democracias Cristãs.
A par da carreira política, Freitas do Amaral é professor catedrático da Universidade de Direito desde 1984 e autor de numerosa bibliografia sobre direito constitucional e administrativo, história das ideias políticas, política nacional e política externa e de defesa.