Reacções à morte de Sophia realçam perda de um dos maiores nomes da literatura portuguesa

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Sophia de Mello Breyner morreu hoje aos 84 anos António Cotrim/Lusa

Sophia de Mello Breyner morreu hoje aos 84 anos. Autora de uma vasta obra, é lembrada por autores, amigos e outras personalidades como um dos maiores nomes da literatura portuguesa e "uma perda irreparável para as letras de Portugal e do mundo".

O Presidente da República, Jorge Sampaio, considerou a morte da poetisa "uma perda irreparável para a cultura, que ela tanto enriqueceu, e para o país, que ela tanto prestigiou".

O chefe de Estado destacou Sophia de Mello Breyner Andersen como "uma grande poeta", sublinhando que a sua obra "atingiu uma altura única", que se "renova a cada leitura, como se aquelas palavras tão belas se erguessem à passagem dos nossos olhos". "Fiel às grandes heranças da cultura ocidental - a clássica, sobretudo grega, e a cristã -, nos versos de Sophia habita a vida e a reflexão sobre ela", referiu Sampaio, que lembra que a escritora sempre disse que a poesia " é o mais forte laço que nos liga ao mundo, permitindo-nos a comunhão com ele".

De acordo com Jorge Sampaio, a obra de Sophia de Mello Breyner, dos versos aos contos e às histórias para crianças, é de "sabedoria e atenção ao universo e à sua claridade", aí se captando "o sopro diurno da vida".

"Como cidadã, Sophia foi uma corajosa combatente pela liberdade e uma resistente, pelo verbo e pelo acto, à opressão. Como tanto gostava de dizer, a política, para ela, só ganha o seu sentido nobre e límpido se for um capítulo da moral e a condição para construirmos um mundo mais justo e humano", salientou ainda o Presidente, confidenciando que teve o "privilégio" de conviver e de receber "repetidamente o testemunho da amizade e apoio" da poetisa.

"Não esqueço a sua figura de uma elegância sem mácula, que reflectia aquela aristocracia que lhe vinha da condição e que ela transformou em aristocracia de espírito", observa Sampaio. "Curvo-me, em nome de Portugal, perante a sua memória grandiosa, certo de que a sua obra perdurará para nos continuar a encantar e ensinar a viver na fidelidade ao que é essencial".

O primeiro-ministro, Durão Barroso, também qualificou Sophia de Mello Breyner como "uma figura marcante da nossa cultura contemporânea" e "uma cidadã exemplar". "Portugal chora hoje não só a sua maior poetisa e uma das figuras marcantes da nossa cultura contemporânea, que acreditamos permanecerá na voz serena, luminosa e inconfundível da sua poesia, mas também uma cidadã exemplar que participou plenamente na vida da sua 'polis', defendendo sempre ser possível e necessário viver nela com justiça e em liberdade", diz Durão Barroso numa mensagem de condolências dirigida a Miguel Sousa Tavares, filho da poetisa.

Por seu lado, o ministro da Cultura realçou que Sophia de Mello Breyner "merece ser lembrada" como um dos maiores poetas portugueses "de sempre". Em comunicado, Pedro Roseta mostrou-se confiante em que a "voz de liberdade, mas também de celebração e magia" da poetisa, "fará com que seja amada e lida por sucessivas gerações".

Também o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, reagiu à morte da escritora, um exemplo de uma vida "iluminada por causas, ideias, princípios e valores". "A morte de Sophia de Mello Breyner representa uma grande perda para todos quantos acreditam na cidadania", referiu Ferro Rodrigues.

Manuel Alegre manifestou-se "muito triste" com a morte de Sophia de Mello Breyner, considerando-a "um dos maiores nomes da história da poesia portuguesa". "Sophia é um nome que rima com poesia. Vai fazer muita falta à minha vida", afirmou o também poeta e deputado do PS.

Também o ex-Presidente da República Mário Soares lamentou a morte da escritora e poetisa, dizendo que o seu desaparecimento representa "uma perda irreparável para as letras de Portugal e do mundo".

Mário Soares lembrou ainda Sophia de Mello Breyner como "uma extraordinária mulher e uma extraordinária escritora e poetisa". "Eu e a minha mulher [Maria de Jesus Barroso] perdemos uma amiga de toda a vida", salientou Mário Soares, sublinhando que a sua morte é "uma perda não só para as Letras portuguesas, como também para as Letras mundiais".

Por sua vez, o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, Manuel Freire, destacou Sophia de Mello Breyner como "uma das maiores vozes femininas, se não a maior, da poesia portuguesa".

Manuel Freire salientou que "Portugal perde hoje uma grande escritora e grande poetisa" e considerou que o país fica "mais pobre e mais triste".

Os escritores José Saramado e Lídia Jorge também já reagiram à morte de Sophia. O Nobel da Literatura sublinhou a forma "assombrosa" como a poetisa conseguia "purificar a palavra como se tivesse acabado de a inventar". "Sem acrobacias, em cada palavra que tocava apresentava-a ao leitor como ninguém foi capaz", reforçou José Saramago, para quem o Nobel da Literatura já devia ter sido atribuído à autora.

Lídia Jorge disse hoje que o único consolo perante a tristeza da morte de uma poetisa da dimensão de Sophia de Mello Breyner "é saber que nos deixou uma obra extraordinária, um milagre da simplicidade".

A escritora falou da poetisa como alguém que ia "ao essencial" e que se dirigia "a todos", por intermédio de um "património permanentemente utilizável". "Temos a ideia de que são recados rimados que vão direitos ao coração profundo do ser humano", disse.

Lídia Jorge recordou ainda uma frase proferida por Sophia de Mello Breyner numa entrevista dada há muitos anos: "Para que é necessário que os outros saibam que somos grandes se nós o somos realmente?".

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