Morreu Sophia de Mello Breyner

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Sophia de Mello Breyner é um dos maiores vultos da cultura portuguesa António Cotrim/Lusa (arquivo)

A escritora e poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen morreu hoje em Lisboa, aos 84 anos. Autora de uma vasta e heterogénea obra, foi distinguida com inúmeros prémios nacionais e internacionais.

Sophia de Mello Breyner, um dos maiores e mais premiados vultos da literatura portuguesa, encontrava-se internada há cerca de 15 dias no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.

Natural do Porto, onde nasceu a 6 de Novembro de 1919, deixa editados 17 livros de poesia, nove antologias, 13 livros de prosa entre contos e histórias para a infância, seis ensaios e uma peça de teatro.

O seu primeiro livro, intitulado "Poesia", foi publicado em 1944, numa edição de autor paga pelo pai, com uma tiragem de apenas 300 examplares. Quase meio século depois, em 1990, reúne em três volumes toda a sua obra poética, numa edição da Editorial Caminho. Pelo caminho ficaram obras como "Dia do Mar" (1947), "O Nome das Coisas", que lhe valeu em 1977 o Prémio Teixeira de Pascoaes, e "Ilhas", que lhe valeu o Grande Prémio de Poesia Inasset/Inapa.

"O Rapaz de Bronze" (1956), "A Menina do Mar", a "A Fada Oriana" (1958 ), "O Cavaleiro da Dinamarca" (1964) ou a "Floresta" (1968) são apenas alguns dos mais conhecidos livros de ficção infantil que escreveu e que lhe valeriam, em 1992, o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças. Sete anos seria galardoada com o Prémio Camões, a mais alta distinção da cultural da lusofonia. Na cerimónia de entrega, o Presidente da República, Jorge Sampaio, salientou a "beleza tão alta e exacta" da sua obra.

Sophia de Mello Breyner foi distinguida com 13 galardões, o primeiro dos quais em 1964, o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores, pelo seu livro "Canto Sexto".

Em 1984, a Associação Internacional de Críticos Literários entregou-lhe o Prémio da Crítica pela totalidade da sua obra.

Em Outubro 2003 foi distinguida com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, tornando-se na segunda autora de língua portuguesa a receber o galardão, depois João Cabral de Melo Neto. A sua saúde débil impediu-a de receber em mãos a distinção, tendo-se feito representar pelo filho Miguel Sousa Tavares.

A última distinção atribuída à escritora foi a Medalha de Honra do Presidente do Chile, por ocasião do centenário do poeta Pablo Neruda, que se comemora no próximo dia 12 de Julho e que pretende este ano homenagear cem personalidades mundiais, entre as quais também o escritor José Saramago.

A 9 de Abril de 1981, foi condecorada com o grau de Grã Oficial da Ordem de Santiago e Espada, a 13 de Fevereiro de 1987 recebeu a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a 27 de Outubro de 1998 a Grã Cruz da Ordem de Santiago e Espada.

Eleita deputada à Assembleia Constituinte em 1975 pelo Partido Socialista, a sua actividade político-partidária não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril, pertenceu mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos. O Movimento Democrático das Mulheres entregou-lhe, em 2000, a Distinção de Honra.

Casada com o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares, a poetisa foi mãe de cinco filhos, o primeiro público das suas histórias infantis.

Quando recebeu o Prémio Camões, revelou que foi numa viagem de autocarro que intuiu a natureza do mistério da poesia, ao reparar que a janela através da qual olhava coincidia por vezes com as janelas das casas. "Pensei que talvez fosse isso: as palavras às vezes coincidiam com os seus significados, e depois deixam de coincidir, e voltam a coincidir outra vez", disse.

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