Faleceu Joaquim Santos Simões

Joaquim Santos Simões, presidente da Sociedade Martins Sarmento, uma das mais importantes instituições culturais de Guimarães, faleceu ontem, ao início da tarde, no Hospital de S. José, em Fafe, após ter sofrido uma paragem cardio-respiratória. A morte de Santos Simões, deixou Guimarães de luto, a cidade que, desde 1957, o acolheu e à sua família, depois de ter saído de Coimbra. Joaquim António dos Santos Simões nasceu a 12 de Agosto de 1923 na vila de Espinhal, concelho de Penela, distrito de Coimbra. Entre 1944 e 1947, já como aluno da Universidade de Coimbra (UC), participou nas movimentações reivindicativas dos estudantes, dedicando-se ainda ao Teatro de Estudantes da UC, onde foi director, encenador e actor. No ano lectivo de 1950/51 acaba por ser eleito presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) e conclui as suas licenciaturas em Ciências Matemáticas e Engenharia Geográfica. Já então se destacava por aquilo que alguns dos seus colaboradores mais próximos designam como um "profundo sentimento de justiça e intervenção social". Depois de leccionar no ensino particular, em 1957 transita para Guimarães onde se torna professor do ensino público na então Escola Industrial e Comercial de Guimarães.É nesta cidade que Santos Simões começa a intensificar o seu trabalho ligado à cultura, vindo a iniciar, em 1963, uma actividade política organizada, militando na oposição democrática do distrito de Braga. Paralelamente, notabiliza-se como um dos fundadores do Cineclube de Guimarães e do Teatro de Ensaio Raúl Brandão, ligado ao Círculo de Arte e Recreio, três instituições onde ocupou cargos e desempenhou um papel importante até ontem, dia da sua morte.Em 1968 foi preso pela PIDE, vindo a ser expulso do ensino devido à sua militância contra o Estado Novo. Um ano mais tarde, participa no II Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro e é candidato da CDE por Braga, na campanha "eleitoral" para a Assembleia Nacional.No pós-25 de Abril, é reintegrado no ensino oficial, regressando à (ainda) Escola Industrial e Comercial de Guimarães. Na mesma altura, participa activamente na criação do Partido Movimento Democrático Português (MDP/CDE), integrando os órgãos directivos nacionais e sendo um dos responsáveis pelo partido no distrito de Braga e em Guimarães. Chega a ser indicado pelo MDP/CDE para os cargos de governador civil e de Ministro de Educação, mas foi rejeitado por António Spínola "por ser comunista", segundo descrevem as notas biográficas sobre a sua vida que o próprio deixou escritas. Participou na criação de novas associações culturais em Guimarães, como a cooperativa editorial O Povo de Guimarães, a Cercigui, e em 1990 é eleito presidente da direcção da Sociedade Martins. Anteontem, Santos Simões faltou pela primeira vez a uma reunião de direcção, consequência do seu estado de saúde fragilizado decorrente da doença renal que o afectou nos últimos quatro anos. Curiosamente, foi neste período que Santos Simões teve ainda força para concretizar alguns dos projectos mais importantes da Sociedade Martins Sarmento, como a construção do Museu de Cultura Castreja, inaugurado em Guimarães o ano passado, ou a criação da Casa de Sarmento, uma unidade cultural dedicada aos estudos históricos.Para Amaro das Neves, docente da Universidade do Minho - cuja comissão instaladora Santos Simões integrou em 1975 - e seu companheiro de trabalho na Sociedade Martins Sarmento durante os últimos 15 anos, o desaparecimento desta figura é uma "perda irreparável para a democracia portuguesa e para a cultura de Guimarães e do país". A sua morte foi igualmente lamentada pela Câmara de Guimarães, que ontem à tarde divulgou um comunicado.O corpo de Santos Simões está em câmara ardente nos Passos Perdidos da sede da Sociedade Martins Sarmento, de onde amanhã, pelas 9h00, partirá o cortejo fúnebre rumo ao cemitério do Prado Repouso, no Porto, onde o seu corpo será cremado, conforme era sua vontade.

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