Mais música, mais cinema e mais filmes-concerto em Vila do Conde

Fétiche assumido: os cinco directores artísticos do Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde gostam de guitarras. Vê-se pelo cartaz e vê-se pelo alinhamento da 12.ª edição do festival, que decorre entre 3 e 11 de Julho: um soldadinho de chumbo que trocou a metralhadora por uma guitarra vermelha (também é, ou pelo menos parece, uma homenagem aos 30 anos do 25 de Abril) no cartaz, uma secção "Electric Guitar" (que inclui curtas e longas, videoclips e filmes-concerto, performances e instalações e até um concurso de "air guitar" aberto ao público em geral) no centro de gravidade do programa deste ano. É todo um programa à volta do "ícone essencial da cultura pop": além do miolo estritamente cinematográfico (com destaque para "Electric Dragon, 80000 Volts", de Ishii Shogo, "Mods", de Serge Bozon, "Blue Wild Angel: Jimi Hendrix Live at the Isle of Wight", de Murray Lerner e "Those Were the Days", de Aki Kaurismäki) e do núcleo de instalações para ver no Solar de S. Roque ("Janske Guitar", de Jan Adrian, e "Andy Warhol: Exploiding Plastic Inevitable", de Robert Nameth), o festival aposta forte na fórmula dos filmes-concerto. Guitarristas de serviço: Tom Verlaine e Jimmy Ripp, para curtas de Man Ray, Fernand Léger e Carl Dreyer; Legendary Tiger Man e Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, para "The Paleface", de Buster Keaton; João Vieira e os restantes X-Wife para "Sleazy Rider", de John Moritsugu; e o não tão guitarrista DJ Food, que traz a Vila do Conde um "cinetrip re-score" para "Head" de Bob Rafelson e Jack Nicholson (um projecto de resto já apresentado em Budapeste). Guitarra eléctrica à parte, as duas secções competitivas do festival denunciam o "estado da arte", mas também o estado do mundo: mais na selecção internacional, é certo, onde a organização do festival reconhece uma inequívoca tendência para ressacar o 11 de Setembro, patente numa boa parte dos 43 filmes a concurso (de um universo-recorde inicial de 2000 curtas concorrentes), com exemplos como "Energy Country", de Deborah Stratman, "L'Axe du Mal", de Pascal Lièvre, "Surplus", de Erik Gandini, e "Atomic Park", de Dominique Gonzalez-Foerster. "Le Lion Volatil", o regresso de Agnès Varda à curta-metragem, e "Cats and Dogs", de Richard Golezowski (mais um capítulo da série "Creature Comforts", da Aardman) serão algumas das excepções à regra. A secção competitiva completa-se com a alínea nacional, que recebe 16 filmes, dos quais oito em estreia absoluta: "A Casa Esquecida", de Teresa Garcia, "A6-13", de Raquel Jacinto Nunes, "Da Minha Janela", de Pedro Caldas, "O Estratagema do Amor", de Ricardo Aibéo, "O Nome Próprio", de Jacinto Lucas Pires, "Sol Dormente", de João Trabulo, "W", de Paulo Belém, e "Vestígios", de Tiago Afonso. Tanto a produção nacional como a produção estrangeira será submetida à apreciação de um júri constituído por António Pinto Ribeiro, Danielle Arbid, Chinlin Hsieh, Jacob Wong e Tim Lanza.Extracompetição, o festival de Vila do Conde regista ainda duas retrospectivas que constituem outras tantas escolhas pessoais da organização: uma dedicada a Luc Moullet, assumidamente um dos realizadores preferidos dos directores artísticos, e outra dedicada a Roman Coppola (faceta realizador de videoclips), espécie de "follow-up" do aperitivo servido no ano passado com "Funky Squaredance", que Roman realizou para os Phoenix.A 12.ª edição do evento renova ainda a sua aposta na secção Work in Progress, que explora o território para lá do cinema aberto por autores ligados ao festival (casos de Sérgio Trefaut, Nicolas Provost, Gerard Holthuis, que apresentam vídeo-instalações, da actuação da Addictive TV Crew, responsável pela noite "The Audiovisual Lounge", em Londres, mas também das longas "The Five Obstructions" de Lars von Trier e Jørgen Leth, "Goodbye Dragon Inn", de Tsai Ming-liang, "Il Ritorno di Cagliostro", de Daniele Ciprì e Franco Maresco, ou "Maarek Hob / In the Battlefields" de Danielle Arbid), e no módulo de filmes-concerto. Além dos cruzamentos incluídos na gaveta "Electric Guitar", "blind date" também para os Hipnótica, que fazem a banda sonora para "La Chute de la Maison Usher", de Jean Epstein e Luis Buñuel. Novidade absoluta no festival é ainda a estreia de uma terceira secção competitiva, "Take One", onde caberão filmes de escola, filmes de fim-de-semana e filmes sem orçamento.

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