Cultura e comércio na renovada Praça do Peixe de Aveiro

Dois anos de empreitada, um projecto inspirado pela modernidade e um investimento de 1,5 milhões de euros devolvem hoje, a Aveiro, um edifício emblemático reinventado. O antigo Mercado José Estêvão, plantado no "coração" da cidade no início do século passado, foi recuperado e transformado. Está pronto para voltar à velha actividade que o tornou conhecido como Praça do Peixe, mas está igualmente preparado para abraçar novas missões. Para lá da venda do polvo, da sardinha ou das caras de bacalhau, o mercado reaparece como espaço polivalente para pequenos eventos culturais. E convida ainda a almoçar ou jantar, no restaurante vocacionado para a gastronomia local que vai abrir portas debruçado sobre a ria.É já a partir de amanhã que quase duas dezenas de vendedores de peixe de Aveiro regressam, de malas e bagagens, ao Mercado José Estêvão. Deixam para trás o pavilhão provisório que ocuparam durante dois anos, para de novo fazerem negócio na antiga Praça do Peixe do município. Antiga, mas pouco. Na verdade, praticamente nova, não fosse manter-se preservada a traça original de um equipamento enquadrado na chamada "arquitectura de ferro". Porque no interior, o mercado cheira a fresco, exibe equipamentos modernos e condições de conforto que não oferecia no passado.Localizado em plena freguesia da Vera Cruz, a estrutura envolta em paredes de vidro importado ocupa uma área de 900 metros quadrados, onde estão instaladas 14 bancas de exposição e venda, para além de mais seis equipamentos destinados a produtos sazonais. O chão do iluminado Mercado José Estêvão é de calçada à antiga portuguesa, e servirá de palco à realização de iniciativas de cariz cultural. Peças de teatro, concertos e exposições poderão ser alguns dos eventos que incluirão a Praça do peixe na agenda da cidade.E à terceira data anunciada, o mercado é mesmo inaugurado. A cerimónia oficial de hoje está marcada para as 12 hoje e vem acompanha de uma churrascada de peixe, aberta à população. Na falta de sardinha será servido carapau para assinalar o regresso do negócio da venda do peixe à velha casa. A casa que o projecto assinado pelo arquitecto José Quintão e um investimento de 1,5 milhões de euros conseguiram, ao abrigo do Programa Polis, transformar, recuperar e incluir no rol das obras de maior beleza para os olhos de alguns. "Para mim é das mais bonitas realmente, mas cada um puxa a brasa à sua sardinha", confessa o vereador da Câmara de Aveiro responsável pelo pelouro dos mercados e feiras. "A praça diz-me muito. Quando era miúdo vivia ali perto e costumava lá ir aos berbigões", recorda Domingos Cerqueira. "Está muito bonito, livre dos tijolos de cimento, tem boas condições de higiene, limpeza e comodidade, boas condições de trabalho", continua o autarca, defendendo que "o mercado seja essencialmente um mercado". "Está funcional para outras actividades, poderá ser uma secção da feira das velharias, mas espero que seja, principalmente, um mercado de peixe, para que não se perca o espírito da gente da Beira-Mar", continua Cerqueira, referindo que "ainda há muita gente nova a vender". "E porque não escolher, nas bancas, o peixe que se quer comer no restaurante?" propõe o autarca, sugerindo um regime de colaboração directa entre o negócio das bancas do rés-do-chão e o do restaurante instalado no andar superior, com vista para um canal da ria. "Há coisas inovadoras que se pode fazer e o restaurante é uma valorização", sustenta Domingos Cerqueira, sobre a casa que será virada para ementas de peixe e marisco, temperadas ao sabor da gastronomia local e tradicional. O espaço não abre hoje, mas já foi concessionado a alguém "com experiência e currículo na área, em Aveiro", revela o vereador. cxVendedoras "ansiosas e curiosíssimas" "Vai ser uma nova vida para o mercado. Ontem (anteontem) falei com algumas pessoas na praça provisória, que estão com um grande desejo de ir para a 'nova' casa onde algumas viveram durante muito anos", relata Domingos Cerqueira. "Espero que o façam com êxito", sublinha o vereador, assegurando que todos os vendedores vão ter lugar no renovado José Estêvão. "Alguns são grandes comerciantes de peixe, outros vendem pouco. Por isso, a alguns demos duas bancas, enquanto outros ficam com uma", explica o responsável."Estamos ansiosas e curiosíssimas, sim senhora, o que é que ainda estamos aqui a fazer?", comenta um grupo de vendedoras, em plena manhã da última sexta-feira de estadia no pavilhão provisório do Largo do Rossio. "Eu gostava que ele (o mercado) tivesse ficado como era antigamente", diz Eduarda Maria. "E era!", concorda Esmeralda Matos, criticando que "agora tem mais luxo, é mais moderno, mas tem menos espaço". "Mas está lindo e mais agasalhado. Tem o vidro, está mais aconchegadinho", contrapõe Joaquina Dias, lamentando que, nas instalações provisórias, "o negócio foi muito abaixo". "Pode estar mais bonito, mas não imita o antigo", teima Eduarda Maria. "Bonito está, mas a gente não vive com 'boniteza', mas com espaço para trabalhar", desabafa a espontaneidade de Fátima Sousa, cansada das circunstâncias oferecidas ao negócio nos últimos dois anos: "Aqui não há condições, menina, só moscas e varejas", reclama.

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