Portugal inicia estágio para o Euro 2004

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O estágio decorre em Lisboa, onde se concentraram apenas 12 dos 23 jogadores convocados por Scolari Manuel de Almeida/Lusa

O "capitão" Fernando Couto prometeu hoje que a selecção nacional de futebol vai tentar corresponder às expectativas de todos os portugueses no Euro 2004, à chegada ao estágio, em Lisboa, onde se concentraram apenas 12 dos 23 jogadores convocados por Scolari.

"Esta é a minha quarta fase final e é óptimo estar aqui. Venho com o mesmo entusiasmo, orgulho, vontade e determinação da primeira vez", disse o central da Lázio de Roma, deixando claro: "Vamos tentar corresponder a todas as expectativas criadas".

Fernando Couto chegou juntamente com cinco jogadores do Benfica – Miguel, Petit, Tiago, Simão e Nuno Gomes –, os três do Sporting – Ricardo, Beto e Rui Jorge – e ainda Quim (Sporting de Braga), Rui Costa (AC Milan, Itália) e Hélder Postiga (Tottenham, Inglaterra).

Por seu lado, os restantes 11 elementos chegam mais tarde: Cristiano Ronaldo joga no sábado a final da Taça de Inglaterra, Figo e Jorge Andrade cumprem no domingo a última jornada da Liga espanhola, os seis jogadores do FC Porto disputam a final da Liga dos Campeões na quarta-feira, Pauleta a final da Taça de França no dia 29 e Moreira o Europeu de sub-21, de 27 de Maio a 8 de Junho.

"Temos pela frente uma grande oportunidade, uma vez que o Europeu se joga cá em Portugal. Com o apoio de toda a gente, podemos fazer coisas interessantes", disse Fernando Couto, que, quanto a objectivos, não deixou dúvidas: "Temos de pensar jogo a jogo".

Para o "capitão", o que a selecção necessita agora é de "trabalhar da melhor forma no estágio", que inclui "dois particulares importantes", com o objectivo de chegar no seu melhor à estreia, agendada para 12 de Junho, no novo Estádio do Dragão, no Porto, frente à Grécia.

"Numa competição como esta, o primeiro jogo é fundamental", afirmou o defesa central, desvalorizando o facto de muitos jogadores chegarem mais tarde: "Por um lado é mau, pois já não falta muito tempo para o Europeu, mas, por outro, é bom o FC Porto estar na final da Liga dos Campeões e outros jogadores em finais da Taça".

Aos "retardatários", Fernando Couto apenas expressou uma desejo: "Espero que lhes corra tudo bem, que possam ganhar os últimos jogos com os seus clubes e venham o mais depressa possível, pois, dentro de um mês [jogo com a Espanha, em Alvalade], queremos estar todos a festejar a qualificação para a segunda fase".

Em relação à lista de convocados, o "capitão" não quis individualizar, mas não esqueceu os que ficaram de fora: "Tínhamos um lote de 40 jogadores e era extremamente difícil escolher 23. Neste momento, queria, no entanto, deixar uma palavra de carinho e afecto aos que ficaram de fora, pois também fazem parte deste grupo".

Fernando Couto, que foi totalista nos Europeus de 1996 e 2000 e no Mundial de 2002, fez igualmente questão de "falar" aos adeptos: "Temos de estar todos unidos. Acabaram os campeonatos e agora temos de pensar só na selecção, para que, no final, possamos festejar".

"A França, a Itália e a Espanha são as favoritas, uma vez que estão habituadas a chegar às meias-finais, mas vamos tentar entrar nesse grupo de fortes candidatos", prometeu o mais internacional "AA" dos futebolistas portugueses (105 jogos).

No que respeita às suas condições físicas, Couto garantiu estar em pleno depois de uma época bem sucedida ao serviço da Lázio: "Cumpri uma época muito positiva. Ganhámos a Taça de Itália e só foi pena não termos conseguido o quarto lugar, que nos daria acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões".

"Chego com grande força e entusiasmo, ainda mais para disputar uma prova que se vai realizar em Portugal", concluiu o defesa central da selecção lusa.

Rui Costa: "Quero fechar com chave de ouro"

Já o médio Rui Costa afirmou na mesma ocasião que quer "fechar com chave de ouro", no Euro 2004, o seu trajecto na formação das "quinas", cujo final, para o jogador do AC Milan, poderá estar próximo.

"Vou encarar este Europeu como o último, até para me dar uma motivação suplementar. Não sei se será a minha última competição, mas vou encará-la como tal e quero fechar com chave de ouro", disse o médio, à chegada à concentração.

Com 32 anos, o jogador "italiano" terá, tal como Fernando Couto e Luís Figo, a sua última oportunidade para ganhar algo ao serviço da selecção principal, ele que já se sagrou campeão luso, italiano e europeu... ao nível de clubes.

"Estamos todos preparados e ansiosos. Chegámos com grande ambição, orgulho e satisfação por podermos representar, uma vez mais, o país numa grande competição, que queremos que seja histórica, no bom sentido", frisou o número dez da formação portuguesa.

Segundo Rui Costa, "os portugueses têm o direito e o dever de sonhar", até porque há a "esperança acrescida" proporcionado pelo facto de se "jogar em casa", mas, para que seja possível atingir os objectivos, salienta, "é preciso que todos apoiem a selecção".

"Não podemos colocar a fasquia demasiado alta, pois isso pode ser muito perigoso, mas uma coisa é certa, queremos fazer um Europeu com grande dignidade e com que todo o país fique orgulhoso da nossa prestação", disse o médio português.

Como veterano de três fases finais, Rui Costa não está preocupado com a "juventude" de muitos dos 23 eleitos de Scolari para a fase final: "Os jogadores mais novos já estão habituados a estas andanças, pois jogam sempre para vencer em todas as competições e a juventude é boa, porque cria entusiasmo".

No que respeita às suas condições físicas, após uma época em que foi menos utilizado do que o habitual, o jogador do AC Milan desvaloriza esse aspecto: "Independentemente dos minutos que joguei – e não foram assim tão poucos –, o importante é a força mental".

Por seu lado, a selecção chega após uma fase de preparação com resultados pouco animadores, que também não preocupam: "Queríamos ter ganho um maior número de jogos, mas só deixámos má imagem frente à Espanha e é preciso lembrar que era um período de experiências".

"Foram sendo feitas muitas experiências, o que não vai acontecer na fase final, e é muito diferente juntarmo-nos à segunda-feira e jogarmos à quarta-feira do que estar em estágio um mês", explicou Rui Costa, deixando claro: "Posso garantir que crescemos muito e que chegamos à fase final com a máxima esperança".

Para o jogador do AC Milan, nem o facto de vários jogadores chegarem mais tarde vai atrapalhar: "Seria melhor se já se tivessem apresentado todos, mas é bom sinal que alguns não estejam cá, pois disputam a Liga dos Campeões, Taças ou o Europeu de sub-21".

"Vamos fazer o nosso trabalho e esperar que todos cheguem nas melhores condições e se integrem tranquilamente", afirmou, acrescentando: "As outras selecções também têm baixas, pelo que não vamos partir em desvantagem em relação a ninguém".

A final de 4 de Julho, no novo Estádio da Luz, em Lisboa, está no horizonte de todos, mas há um longo caminho a percorrer. "Todos os jogadores que vão estar no Europeu sonham em chegar à final. Até lá, vamos, no entanto, ter muitas dificuldades. Temos de ter muito respeito pelos adversários", concluiu Rui Costa.

Rui Jorge lembra Mundial 2002 e evita euforias

Um paralelismo com o Mundial de 2002, no qual Portugal foi eliminado na primeira fase, e as "marcas" desse desaire dominaram hoje o discurso do defesa esquerdo Rui Jorge, no primeiro dia do "arranque" português para o Euro 2004.

Poucos minutos depois de chegar ao hotel onde a selecção portuguesa iniciou a concentração, Rui Jorge não evitou falar do passado e da má experiência do último grande torneio, deixando alguns recados.

O defesa português, o primeiro nome a ser indicado como um dos 23 escolhidos do seleccionador nacional, o brasileiro Luiz Felipe Scolari, falou do papel importante da imprensa, do trabalho dos jogadores e da exigência (por vezes pouco legítima) do público.

A sustentar as palavras do defesa do Sporting estava a eliminação do Mundial de futebol de há dois anos (Coreia do Sul e Japão), no qual Portugal teve uma fraca campanha e o que isso terá gerado em termos de opinião pública, levando Rui Jorge a dizer que foi uma situação que jamais esquecerá.

"Há momentos que eu nunca mais vou esquecer na minha vida. Um deles foi a chegada ao aeroporto, vi e ouvi coisas que pensei não serem possíveis de ouvir a quem foi representar a selecção e tentou fazer o melhor pela selecção nacional", criticou.

O jogador quis ser realista em relação ao que poderá ser o Campeonato da Europa de futebol deste ano. Baixou a fasquia das expectativas, optou pela contenção e fez também um alerta ao papel da imprensa, lembrando que às vezes os adversários são melhores... e não esquecendo a inconstância da selecção.

"Se nós não fazemos mais é porque não conseguimos, senão fizemos melhor foi porque não conseguimos. Quando cheguei a Portugal, depois do Mundial, cheguei com a sensação que não poderia ter feito nada mais para ajudar a selecção", desabafou o defesa.

O futebolista explicou também que não se trata de falta de vontade ou pouco empenho da parte da selecção portuguesa, mas sim o facto concreto de existirem selecções excelentes e algumas, se calhar, com mais legitimidade para pensarem na vitória.
"Se calhar há algumas com legitimidade, com mais legitimidade do que aquela que nós temos de pensar em vencer. Pela sua tradição, pela sua história, porque realmente já venceram Campeonatos da Europa e isso é importante", acrescentou.

Para o jogador do Sporting não existem dúvidas que Portugal é "uma boa equipa" e "pode ganhar a qualquer uma", mas também não deixa de ser verdade que à equipa das "quinas", segundo Rui Jorge, faltará regularidade.

"A consistência é uma coisa importante e nós, por vezes, não a temos. Num Campeonato da Europa não há lugar ao erro. Se calhar temos errado mais do que outras selecções e se calhar é por isso que elas têm conseguido bons resultados e nós não", admitiu Rui Jorge.

E para o jogador é fundamental que as pessoas tenham bem presente que todos os convocados tentarão fazer o melhor e que senão fizerem mais é porque não conseguem... e assim só admitirá queixas por falta de profissionalismo ou empenho.

Fundamental na opinião de Rui Jorge, bem como do “capitão” Fernando Couto, é o primeiro encontro de Portugal neste Europeu. "O primeiro jogo nestas competições é importantíssimo e como tal vamos tentar vencê-lo e começar da melhor maneira esta prova. Não é meio caminho andado, mas é um passo muito importante", referiu o lateral esquerdo.

De resto, Rui Jorge não deixou, novamente, de abordar a sua convocatória, sobretudo face ao período difícil que passou, após ter acusado uma substância proibida, na sequência de um remédio que se encontrava a tomar para a rinite alérgica.

O controlo anti-doping efectuado em Fevereiro, por ocasião da partida Moreirense-Sporting (SuperLiga), deu positivo e o jogador, que chegou a estar suspenso, viu a celeridade no processo "salvar-lhe o lugar" no Europeu, após ser absolvido na segunda-feira.

"Tive um momento de algumas dúvidas se iria participar, mas sempre tive esperança e consciência de que tudo se iria resolver", disse Rui Jorge, admitindo uma sensação de "alívio", atendendo à morosidade que estes processos costumam ter.

O jogador não deixou ainda de reconhecer ter passado por alguma ansiedade, sobretudo devido ao factor tempo, porque quanto ao resto sempre esteve de cabeça "limpa e tranquila", como o próprio fez questão de afirmar.

"Acho que houve um esforço para que as coisas fossem feitas depressa, mas esta é que é a maneira correcta de se fazerem as coisas", sublinhou o defesa esquerdo, cujo nome foi o primeiro a ser anunciado por Scolari, um dia antes do anúncio oficial, anteontem.

Rui Jorge teve essa alegria antes dos seus colegas e porque foi na segunda-feira, um dia antes do anúncio oficial da convocatória dos 23 jogadores, que a Comissão Disciplinar da Liga o absolveu e Scolari não hesitou e "carimbou-lhe" o passaporte para o Euro 2004.

Os trabalhos da selecção lusa arrancam amanhã, com a realização, até sábado, de testes e exames médicos, ainda na capital.

Para sábado, pelas 18h00, está agendada a partida para Óbidos, onde a selecção lusa vai ficar a estagiar até 2 de Junho, tendo, pelo meio (29 de Maio), um jogo particular frente ao Luxemburgo, em Águeda.

A partir de 2 de Junho, o "onze" comandado por Scolari passa a estagiar em Alcochete, na Academia do Sporting, onde ficará até ao final da sua participação no Europeu, sendo que, a 5 de Junho, cumpre o último encontro de preparação – em Setúbal, frente à Lituânia.

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