Casa do Futuro Interactiva põe tecnologia ao serviço das pessoas com deficiência
Para comemorar o Dia Mundial das Telecomunicações, a Fundação Portuguesa das Comunicações (FPC) apresentou ontem a nova versão da Casa do Futuro Interactiva, uma exposição no Museu das Comunicações que este ano pretende mostrar como é possível facilitar a vida às pessoas com deficiência.
"A casa foi reestruturada e ampliada, sendo agora mais virada para as pessoas com necessidades especiais", disse o administrador da FPC, Gonçalo Areia, enquanto mostrava a "suite da avó", uma das principais novidades da exposição.
Neste espaço, próximo mas autónomo do resto da família, juntam-se o ecrã de plasma e a velha estante, o quadro a óleo do velho general e a ligação à Internet, que permite à avó alertar o centro de saúde e a filha, caso esteja a sentir-se mal. Tudo para favorecer a inclusão dos idosos, dando-lhes as vantagens da tecnologia, mas sem retirar o conforto do seu passado, diz Gonçalo Areia.
O sistema de "vigilância e alarmística" instalado na Casa do Futuro permite ainda que a família possa acompanhar o bem-estar da avó, tanto da sala de estar como do escritório.
Constituída por uma compilação de inovações tecnológicas provenientes de dezenas de empresas diferentes — algumas das quais estão ainda em fase-piloto —, a exposição pretende mostrar ao público a aplicação da tecnologia no dia-a-dia de um futuro "não muito longínquo".
Simultaneamente, e contando com o apoio de seis associações de deficientes (motores, surdos, cegos, mentais e outros) — que ontem assinaram um protocolo de cooperação com a FPC —, a exposição tenciona ainda alertar para a exclusão das pessoas com necessidades especiais. "É importante pensar que qualquer sistema deve ser adaptado a todos", salientou José Arruda, portador de deficiência visual e dirigente da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal, sublinhando que "os cegos ainda estão de fora" na maioria dos casos.
José Arruda falava depois de experimentar, no "quarto do jovem", um sistema que permite aos cegos "ler textos da Internet" através de um sintetizador que converte texto em voz activa.
Este programa, pensado para permitir aos jovens cegos participar em aulas à distância e ler conteúdos na Internet, foi concebido pela Portugal Telecom, que também é responsável pelo programa "PT Conversas Voz", que dá aos surdos a possibilidade de comunicar por telefone, fazendo a conversão automática para voz de qualquer texto que o deficiente tecle em casa.
Actualmente em fase-piloto com a experiência de surdos em todo o país, este sistema poderá estar disponível até ao final deste ano, adiantou Clara Cidade, coordenadora do projecto, acrescentando que, no sentido contrário, a mensagem passa por uma operadora da PT, que escreve a resposta de volta.
Numa outra zona da exposição, uma cadeira de rodas com um "tablet PC" permite ao seu utilizador controlar a televisão, a luz, os estores, falar ao telefone e usar a Internet sem sair do seu lugar.
No "quarto dos pais", basta pedir "Ambrósio, apaga as luzes" para que se faça escuro, assim como é ao Ambrósio — nome dado ao sistema de comandos de voz utilizado — que se pede para que o vidro da janela se torne transparente ou baço, seja o objectivo a luz ou a privacidade.
A casa-de-banho adaptada ao deficiente — com um lavatório que se coloca a qualquer altura, um chuveiro sem degrau e espaço para que a cadeira de rodas possa circular — foi aplaudida pelo presidente da Confederação Nacional de Organizações de Deficientes, Henrique Mendonça.
O responsável sublinhou a importância de contribuir para a autonomia e a inclusão das pessoas com deficiência, considerando que a Casa do Futuro é um "semi-sonho, semi-realidade".
Recebendo cerca de 60 crianças por dia, a Casa do Futuro não podia deixar de ter também espaço para o entretenimento, com um sistema de "home video", mini-laboratório de fotografia digital, telemóveis com UMTS e consola de jogos da Microsoft. Um ambiente moderno e colorido — cujo projecto é da autoria do arquitecto Tomás Taveira —, com linhas pouco convencionais e materiais inovadores, onde abundam os ecrãs. A Casa do Futuro é um espaço aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 18h00, e ao sábado, das 14h00 às 18h00.