Campo da Paz manifesta-se em Telavive pela retirada de Gaza

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O ataque desta noite em Gaza visava dois alvos da Jihad islâmica Mohammed Saber/EPA

Gaza tornou-se o epicentro do conflito israelo-palestiniano, após o referendo do Likud, de 2 de Maio, que recusou o plano Sharon de retirada, e a morte de 13 militares israelitas nesta semana. No campo palestiniano, há uma clara aposta em tornar infernal a ocupação, atacando diariamente o exército. No campo israelita, há um crescente movimento em favor da retirada de Gaza e do desmantelamento dos 21 colonatos aí instalados.

Realiza-se hoje em Telavive, na Praça Rabin, local mítico do campo da paz, uma manifestação organizada pelo movimento Paz Agora (Shalom Arshav), com uma única palavra de ordem: "Sair de Gaza e começar a conversar". Os organizadores declararam ao "Yediot Aharonot" esperar 100 mil manifestantes.

Entre os oradores estão o líder trabalhista Shimon Peres, Yossi Beilin, presidente do novo partido de esquerda Yahad e promotor da Iniciativa de Genebra, tal como Ami Ayalon, antigo chefe do Shin Beth (segurança interna) e promotor de outra iniciativa de paz, Voz do Povo.

A acção reúne essencialmente a esquerda, embora os organizadores contem com a presença de militantes do Shinui (centro). Num gesto inédito, o diário "Ha'aretz" (centro-esquerda) apelou em editorial à presença na manifestação, como forma de reorganizar o campo da paz e criar uma alternativa política após a recusa da retirada de Gaza no referendo do Likud, por pressão dos colonos.

As sondagens ontem publicadas são inequívocas. A do "Yediot Aharonot" (conservador) indica que 71 por cento dos inquiridos aprovam "a retirada unilateral da Faixa de Gaza", contra 24 que se opõem. Há dez dias, idêntica sondagem indicava 62 a favor e 32 contra. Outro inquérito, do "Maariv" (direita), aponta 79 por cento de opiniões favoráveis à retirada. Igualmente importante é outro dado: 63 por cento dos eleitores do Likud querem a saída de Gaza.

Segundo o "Haaretz", após uma fase de represálias militares, Ariel Sharon quer fazer aprovar a retirada pelo Governo, passando por cima do referendo do seu partido, mas não tem ainda assegurado o apoio da maioria dos ministros.

Uma mudança política significativa é a retomada de contactos entre a Autoridade Palestiniana (AP) e os Estados Unidos. Após meses de gelo e do apoio do Presidente Bush à política de Ariel Sharon, o primeiro-ministro palestiniano, Ahmed Qorei (Abu Ala), encontra-se hoje na Jordânia com o secretário de Estado, Colin Powell. Depois segue para Alemanha, onde terá conversações com a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice.

Na terça-feira, Qorei recebeu uma carta de garantias de Bush, em que este reafirma o seu empenho na criação de um Estado palestiniano e "a necessidade de pôr fim à ocupação", disse à AFP uma fonte oficial da AP.

Israelitas arrasam casas

Mais dois soldados israelitas foram ontem mortos a tiro no campo de refugiados de Rafah, no Sul de Gaza, junto da fronteira egípcia. Outros dois foram feridos. O ataque foi reivindicado pelas Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa (ligadas à Fatah). Ao longo do dia houve vários confrontos violentos. Durante a noite de quinta-feira, foram mortos mais quatro palestinianos armados na área. Um outro foi morto ontem.

Também em Rafah, "bulldozers" do exército arrasaram ontem de manhã cerca de 20 casas, para alargar o corredor "Filadelphi Route", onde cinco militares israelitas foram mortos na quarta-feira. Pouco antes, a rádio militar anunciara a destruição de "dezenas ou centenas de casas", por decisão directa do primeiro-ministro.

Para a Autoridade Palestiniana é "um crime de guerra". Segundo Nabil Abu Roudeina, conselheiro de Arafat, esta acção "confirma que a retirada de Gaza é uma mentira". Um responsável das Nações Unidas em Gaza qualificou a acção como uma "catástrofe humana".

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