Eduardo dos Santos discute eleições e petróleo em encontro na Casa Branca

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Luanda não se opôs à intervenção militar dos Estados Unidos no Iraque, em Março de 2003, mas a sua posição nunca foi oficializada Armado França/AP

A Washington interessa também o estatuto de Angola de potência militar africana, e de membro rotativo do Conselho de Segurança (CS) da ONU, desde Janeiro de 2003 e por dois anos. Luanda não se opôs à intervenção militar dos EUA no Iraque, em Março de 2003, embora a sua posição nunca tenha sido oficializada.

Mais recentemente, e segundo a rádio “Voz da América”, que emite a partir de Angola, circularam informações segundo as quais o Governo norte-americano teria inquirido Luanda, e outros governos africanos, sobre a sua disponibilidade para ocuparem o vazio deixado pela retirada da Espanha e das Honduras do Iraque.

A embaixada dos Estados Unidos em Luanda não confirma, mas reconhece que Washington vê cada vez mais Angola como um importante parceiro político no continente africano. “Os Estados Unidos estão muito interessados que Angola, como potência militar, desempenhe um papel estabilizador na sub-região Austral de África e dos Grandes Lagos”, disse ao PÚBLICO fonte da embaixada americana.

Angola poderá vir a assumir um papel preponderante na criação de uma eventual força de intervenção, no quadro da União Africana. O ministro angolano da Defesa, Kundi Paihama disse recentemente ser favorável à participação das Forças Armadas Angolanas em missões de ajuda humanitária e de manutenção de paz.

Desde que os dois países estabeleceram laços diplomáticos em 1993, esta é a quarta visita do Presidente angolano aos Estados Unidos. Em Setembro de 1991, foi recebido pelo republicano George Bush pai, e em Dezembro de 1995, pelo democrata Bill Clinton. Em Setembro de 2002, George W. Bush recebeu Eduardo dos Santos integrado numa delegação de presidentes africanos.

Além do encontro de hoje com George W. Bush na Casa Branca, o chefe de Estado africano vai conferenciar com o vice-presidente e o secretário de Estado norte-americanos, Dick Cheney e Colin Powell, segundo o “Jornal de Angola”.

A imprensa oficial destaca o “dossier” petróleo e a ajuda à reconstrução de Angola como temas das conversações. A imprensa privada privilegia a definição de uma data ou pelo menos de um calendário para as legislativas e presidenciais angolanas.

Eduardo dos Santos voltou esta semana a dizer que não estão reunidas as condições para a realização do escrutínio. “A actual situação de pós-guerra requer ainda alguma ponderação e bom senso”, afirmou em Cabo Verde, de onde seguiu ontem para Washington.

A deslocação oficial que hoje se inicia acontece numa altura em que o Governo angolano precisa de atrair ajuda de doadores para manter o apoio eleitoral. Angola só começará a beneficiar dos lucros que partilha com as companhias petrolíferas, em 2006, quando as mais recentes descobertas de petróleo no “off-shore” angolano começarem a ser exploradas.

Nos próximos dois anos, Luanda vê na administração norte-americana um poderoso defensor da causa angolana junto do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), de quem depende a luz verde para a conferência de doadores.

A recente autorização do Governo para a publicação do relatório do diagnóstico do sector petrolífero, elaborado pela empresa de consultoria internacional KPMG, inscreve-se na linha das recomendações do FMI. Anunciada uma semana antes da deslocação a Washington, a decisão é vista pela imprensa privada angolana como um dos trunfos de José Eduardo dos Santos, nesta visita.

Os interesses petrolíferos

O esperado aumento da produção de petróleo no Golfo da Guiné e o crescente interesse dos EUA pelo petróleo de Angola, são outras das razões que levam a imprensa a ver neste encontro “um acontecimento”.

Até 2008, a produção de petróleo na Africa Subsariana poderá passar de 3,8 milhões a 6,8 milhões de barris por dia e Angola é um dos quatro países que mais contribuirá para esse aumento, através das duas gigantes norte-americanas – a ChevronTexaco e a ExxonMobil. A primeira, com 60 mil barris por dia, controla mais de dois terços da produção total angolana. A segunda pretende investir 15 mil milhões de dólares em Angola nos próximos quatro anos.

Angola é o terceiro parceiro comercial dos Estados Unidos na África Subsariana, sobretudo devido às exportações de petróleo. Mas os EUA dizem estar interessados em sectores para além do petrolífero. Em Dezembro de 2003, Angola foi escolhido pelo Presidente Bush como um dos países elegíveis pelo programa AGOA (African Growth and Opportunity Act) que concede benefícios fiscais e aduaneiros para facilitar a exportação de produtos africanos.

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